Módulo de História discute crise na Ucrânia

Publicado em 6 de maio de 2014 às 13:18
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O Departamento de História, Filosofia e Sociologia do Colégio Dante Alighieri realizou, nos dias 22 e 29 de abril – cada qual dedicado a uma turma –, um módulo sobre a crise na Ucrânia. Para dar subsídios mais consistentes aos alunos da 3ª série do Ensino Médio, foi feita uma análise do histórico do país, com foco centrado em diferentes aspectos de sua formação.

No tópico “Ucrânia – identidades e etnias”, o professor de Sociologia Felipe Trafani discutiu o conceito de identidade. “Identidade é uma construção, uma invenção de nós mesmos enquanto país, povo, cultura”, disse. Após essa introdução, deteve-se a explicar alguns períodos da história da região, bem como os povos que ocuparam o local – entre os quais, os citas (Antiguidade clássica), sâmatas (Antiguidade tardia), mongóis (século XIII). Também citou, entre outros períodos, o Grã-Ducado da Lituânia (século XIV), a República das Duas Nações (1569), a partilha da República (século XVIII) e a República Popular da Ucrânia (1917 a 1919).

Em sua fala, o professor Felipe procurou destacar a ideia de que os ucranianos étnicos formaram uma identidade baseada na visão negativa que tinham dos russos. Logo depois, descreveu um panorama das etnias presentes na região, com especial atenção para a Crimeia, onde há 24% de ucranianos étnicos, 53% de russos, 19% de tártaros e 10% de outras etnias.

Crimeia: uma região conturbada

Ao professor Lucas Kodama coube traçar um panorama da história da Crimeia, região marcada pela ocupação de diversos povos. Dominada pelo Império Otomano em 1475, foi conquistada pelo Império Russo em 1777, sendo anexada à Rússia czarista seis anos mais tarde, no governo de Catarina I.

Entre 1853 e 1856, o avanço expansionista do Império Russo foi combatido por Reino Unido, França, Piemonte e Sardenha e Império Turco Otomano na Guerra da Crimeia. Na ocasião, os russos acabaram derrotados.

O professor se deteve, então, em explicar um pouco da história da Rússia, visto que esse país está diretamente ligado aos rumos da Crimeia e da Ucrânia. Sob a ditadura de Joseph Stalin, a União Soviética (formada em 1922, como um dos desdobramentos da Revolução Russa de 1917) enviou diversos opositores políticos para campos de trabalho forçado (gulags) em localidades como a Sibéria – entre esses opositores, vários ucranianos.

Stalin também é considerado o responsável pelo Holodomor (ou “a grande fome da Ucrânia”), uma vez que a fome de caráter genocida teria sido deliberadamente imposta pelo governante aos ucranianos devido à não adesão destes à coletivização agrícola (assim, Stalin teria bloqueado a chegada de alimentos à Ucrânia, ocasionando de 3 a 3,5 milhões de mortes).

Perto do fim da 2ª Guerra Mundial, a Crimeia sediou a célebre Conferência de Yalta, em que os três principais líderes da época (Winston Churchill, primeiro-ministro britânico, Franklin Delano Roosevelt, presidente norte-americano, e Stalin) se reuniram para definir os rumos da política mundial.

Sucessor de Stalin na chefia da União Soviética, Nikita Kruschev transferiu o território da Crimeia para o comando da Ucrânia em 1954.

Colapso da URSS e o dilema da Ucrânia

Na parte final da explicação dos professores, Jackson Farias apresentou o cenário dos últimos anos na Rússia e na Ucrânia. Ele falou sobre o colapso da União Soviética, as tentativas de reforma feitas por Mikhail Gorbachev (Glasnost e Perestroika) e o governo do liberal Boris Iéltsin na Rússia.

Nesse contexto, abordou a formação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) e o dilema que os países dessa organização enfrentaram (e que a Ucrânia ainda enfrenta): ter um Estado forte e controlador, como a Rússia, ou tornar-se uma economia de mercado mais liberal, semelhante a países mais ocidentalizados, como a França.

Detalhando o governo de Iéltsin na Rússia, o professor Jackson apontou a corrupção que marcou esse período, com os privilégios dados a ex-dirigentes da URSS, que acabaram se tornando oligarcas, donos de setores milionários. Em seguida, falou aos alunos a respeito da gestão de Vladimir Putin, que, em um momento de alta das commodities, conseguiu equilibrar a economia russa, retomando estatais e internalizando capital.

Fortalecido, Putin passou a trabalhar para fazer a Rússia retomar seu papel de protagonista mundial. Ao mesmo tempo, porém, o país segue enfrentando problemas, por exemplo, com o separatismo da Chechênia, o que já resultou em diversos atentados.

Após essa apresentação sobre a Rússia, o professor Jackson focou o histórico da Ucrânia no pós-URSS. Desde então, segundo ele, o país vive uma crise econômica crônica, amenizada apenas no fim da década de 1990 e início da de 2000, quando obteve certo êxito como produtor de commodities e serviu de caminho para o transporte de petróleo.

Na política, a eleição presidencial de 2004 foi anulada devido à manipulação de votos que havia dado a vitória a Viktor Yanukovych, político defensor de uma aproximação entre Ucrânia e Rússia. Como resposta à fraude, deu-se, então, a Revolução Laranja, que culminou na vitória, em um segundo pleito, de Viktor Yushchenko (pró-integração da Ucrânia à União Europeia).

Contudo, sem conseguir cumprir suas promessas, Yushchenko começou a perder apoio e aceitou colocar o rival Viktor Yanukovych como primeiro-ministro. Este último, aliás, venceu a eleição presidencial de 2010 contra Iulia Timochenko (ex-primeira ministra de Yushchenko, que acabou presa, em 2011, acusada de corrupção, e só saiu da prisão em 2014).

Em novembro de 2013,Yanukovych se negou a assinar o acordo que associaria a Ucrânia à União Europeia, gerando diversos protestos populares. Enquanto isso, a Crimeia se separou da Ucrânia para se integrar à Rússia.

Encerrando sua explanação, o professor Jackson argumentou que a junção de uma crise econômica profunda com governos fracos levaram a Ucrânia a decidir entre estar mais próxima da Rússia ou da União Europeia. Entretanto, como frisou o professor, esse dilema não surgiu nos últimos dois anos – como alguns veículos de mídia fizeram parecer –, sendo, na verdade, um problema que existe há anos.

Em resumo, a questão geracional é decisiva: os mais jovens exigem a integração à União Europeia para, assim, ter o direito de transitar e morar com mais facilidade em outros países mais desenvolvidos da Europa. Já os mais velhos querem que a Ucrânia se mantenha próxima à Rússia.

Na parte final do módulo, abriu-se espaço para perguntas dos alunos e debates.

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