Módulo aborda imperialismo na África do Sul

Publicado em 25 de março de 2014 às 18:49
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Alunos do Ensino Médio assistiram, nos dias 11 e 18 de março, a um módulo de História relacionado à colonização da África do Sul e à história de Nelson Mandela, figura proeminente na luta pela igualdade racial no século 20. A apresentação ficou por conta dos professores Jackson Fergson e Lucas Kodama Seco.

O primeiro momento do encontro exibiu, no entanto, uma intolerância “pelo avesso”. Trechos de um documentário abordaram a morte, pela mão de extremistas hostis à população branca, de Amy Biehls, uma jovem branca que se opunha ao regime do apartheid e protestava pela igualdade racial. No filme, a declaração de uma mulher chamou a atenção pelo sentimento mútuo de hostilidade: “Mataram apenas um branco, enquanto muitos negros morreram, então estava tudo bem.”

Depois da exibição, com os alunos convidados a refletir sobre os extremos a que chegara a situação, o professor Jackson voltou no tempo e abordou a colonização da África do Sul, iniciada com a vinda de holandeses interessados em estabelecer colônias de exploração na área. A prática começou em 1652, com Jan Van Riebeeck, um comandante da Companhia Holandesa das Índias Orientais.

Segundo o professor, a ocupação da colônia passou, mais tarde, a ganhar tons religiosos: os “eleitos de Deus”, como costumavam se proclamar os reformadores cristãos, colonizaram as primeiras áreas, expulsando, escravizando ou matando os nativos, considerados “bárbaros”, e fundaram a Cidade do Cabo. Em seguida, no século 18, os ingleses tomaram a região e expulsaram os bôeres (descendentes de colonizadores, também chamados de africânderes) para o interior do continente.

Com a descoberta de jazidas de diamante no interior do território, os ingleses decidiram explorar áreas outrora habitadas por outros povos nativos, como o Thembu (povo de Nelson Mandela), que já estavam combatendo os bôeres. Isso levou a vários eventos de maior impacto, como a guerra Ango-Zulu (1879) e a guerra dos Bôeres (1899-1900).

“Com essa visão de superioridade dos colonizadores e de separação desigual dos bens naturais, nota-se que o apartheid, a política de separação na África do Sul, não começou em 1948 com a nova legislação excludente, e sim ainda à época da colonização”, explicou o professor Jackson.

“Se houvesse uma quebra de contrato do negro, que muitas vezes trabalhava sob condições desumanas, ele poderia ser punido. Com o tempo, eles também perderam as terras: os holandeses ficaram com as terras férteis, e os ingleses, com as minas. Para os negros, sobraram apenas as terras que ninguém queria. Desse modo, mesmo à época em que 75% da população era negra, menos de 10% das terras eram deles”, completou o professor.

Nelson Mandela entrou na luta pela igualdade ainda jovem, quando o governo sul-africano estabelecia uma lei para a representação política de nativos, que, nas palavras do professor Jackson, “dava poder aos líderes, mas com a intenção de dividir as tribos, já que, quanto menos poder os grupos tivessem, melhor para a classe dirigente”. Vale destacar que, até então, os governos sul-africanos se denominavam liberais.

Na década de 1930, os africânderes foram buscar referências em outro lugar para aprimorar sua metodologia separatista. Não surpreendente, dessa forma, que acabassem tendo contato com a política racial implantada por Hitler na Alemanha. “Até então, eles usavam o argumento religioso para dizer que eram superiores. Depois do contato com Hitler, passaram a usar um argumento que consideravam científico para dizer que o negro era inferior: se os nazistas falavam, eles tomavam como certo”, explicou o professor Lucas.

Mesmo com as separações de reservas étnicas distantes, que pretendiam isolar as tribos e impedir o crescimento populacional dos negros e, de quebra, tornar a África do Sul toda branca, governantes relatavam, em entrevistas, que o apartheid era mal compreendido, pois consistia, na verdade, em uma política de boa vizinhança.

Vale destacar que Mandela, que advogava em prol dos negros que recebiam as mais diversas acusações do governo, era considerado uma “exceção da exceção” pelo grau de estudo que havia obtido, apesar de todos os desincentivos da legislação separatista nesse sentido. “As pessoas que procuravam Mandela eram acusadas de crimes como entrar em estabelecimentos pela porta dos brancos, e não dos negros, usar bebedouros para brancos, pisar em praias exclusivas, ficar na rua após as 23 horas, andar sem a caderneta de passe que todos os negros precisavam portar, por serem empregados em locais que lhes eram vedados, ou até mesmo por morarem em lugares a que, por regra, não poderiam ter acesso”, explicou o professor Jackson.

Enquanto os professores falavam do contexto em que Mandela estava inserido, com menção a suas detenções por razões variadas, entre as quais a acusação de “comunismo”, os alunos assistiam a trechos de filmes que abordam os massacres em Sophiatown, em 1955, e em Sharpville, 1960. No primeiro caso, o confronto ocorreu pela intenção do governo de desapropriar todos os negros da região, que, por ser bem localizada, seria utilizada para fins imobiliários. Isso redundou no deslocamento dos negros para locais mais afastados, obrigando-os, ao mesmo tempo, a se manterem por conta própria. No segundo caso, os negros se rebelaram pela obrigação de portar os vistos para locomoção.

Os professores também fizeram questão de desmistificar as crenças sobre Mandela, que ficou quase três décadas preso, e ponderar as atitudes por ele tomadas no decorrer de sua vida. “Falam da postura violenta de combate ao governo que Mandela assumiu posteriormente. Ele mesmo sempre assumiu a culpa por isso, mas também a dividiu com o Estado, dizendo que fez o que fez porque os governantes não deram outra opção”, afirmou o professor Jackson.

Os professores comentaram, também, as diferenças de posturas dentro do Congresso Nacional Africano, do qual Mandela fazia parte. “Até os anos 1940 havia uma proposta nacionalista, multirracial e pacifista, seguindo os moldes de Gandhi na Índia. A partir de 1948, com o crescimento do nacional-cristianismo, que acirrou a desigualdade e dificultou ainda mais a vida dos negros, essa postura perdeu espaço. Na década de 1960, não havia mais conversa. Os membros antigos ainda zelavam pelo diálogo, mas a juventude bradava que era o momento de ir à guerra”, explicaram.

Outro fato curioso foi o procedimento do governo para com Mandela, que, pelas ações tomadas no período em que mais combatia o regime, provavelmente teria sido condenado à morte, não fosse o fato de ser ele, então, uma pessoa célebre. “Era difícil condená-lo naquela época, pois ele já era visado pelo mundo inteiro. E, mesmo com todas as dificuldades, quando perguntado se imaginava a África do Sul sem brancos, ele ainda falava que aquele era um país para todas as raças.”

Mandela foi preso pela última vez em 1964, condenado à prisão perpétua, e continuou sendo símbolo do combate às desigualdades. Em 1990, foi solto a mando do presidente Frederik Willem de Klerk, e em 1994 foi eleito presidente da África do Sul nas primeiras eleições multirraciais do país. Ele nasceu em 1918 e morreu em 2013, aos 95 anos.

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