Infectologista participa de sessão do CineBio

Publicado em 9 de setembro de 2014 às 16:02
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O Colégio Dante Alighieri realizou, em 3 de setembro, uma nova edição do projeto CineBio, que consiste na exibição de um filme e no debate, ao fim da projeção, sobre os temas que o obra explora. Desta vez, os alunos do Ensino Médio assistiram à ficção “Contágio”. Dirigido por Steven Soderbergh e lançado em 2011, o filme retrata a propagação de um vírus letal pelo mundo em pouco tempo. Durante a busca por uma cura, especialistas em saúde aconselham a todos que evitem o contato com outras pessoas e com ambientes aglomerados, já que a transmissão da doença poderia ocorrer facilmente, até mesmo com o simples toque em objetos contaminados.

Na ocasião, os presentes receberam a visita de uma verdadeira autoridade no assunto: o dr. Nilton Cavalcante, médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, que atua há mais de 30 anos na área. Integrante da Academia de Medicina de São Paulo desde 1993, ele, que é pai do aluno da 3ª série do Ensino Médio Rodolfo Cavalcante, se dispôs a vir ao Colégio esclarecer aspectos do trabalho de infectologistas no estudo, na prevenção e no combate a doenças.

Antes do filme, três professores contextualizaram o panorama atual do surto de ebola, aproveitando a atenção que o vírus tem recebido da imprensa. Os professores Marcelo Spínola, de Geografia, Paula Reis e Renato Correa, de Biologia, falaram sobre a forma como as doenças se espalham e relacionaram diversos impactos que as epidemias podem trazer à população regional e mundial.

O professor Marcelo, por exemplo, apresentou um mapa ilustrativo da epidemia atual e dos surtos anteriores do ebola. Entre os fatores que impactam a África, região em que a irrupção do vírus está trazendo mais problemas, ele destacou não só questões de segurança à saúde e controle de propagação, como o bloqueio a áreas em quarentena, mas também a adoção de medidas econômicas, como o veto à circulação de mercadorias e a redução da atividade de empresas transnacionais, a que se soma, ainda, a perpetuação de preconceitos sociais, como a ideia de que a África é um continente de pobreza e miséria.

A professora Paula observou que fatores culturais e sociais podem facilitar a propagação de um vírus. “Se um morcego frugívoro deixa cair um pedaço de fruta no chão, vocês, aqui, têm a opção de não pegar os restos para consumi-los. O mesmo aconteceria se vocês encontrassem um animal morto na floresta. Mas isso não é necessariamente o que acontece em regiões pobres, onde as pessoas têm dificuldade em obter alimentos”, explicou Paula, destacando que, ao decidir consumir alimentos nessas condições, a pessoa pode ser contaminada e dar início ao surto.

O professor Renato falou da atuação de diversos vírus, entre os quais o ebola, nos organismos em que se introduzem. Enquanto o da gripe ataca o sistema respiratório, por exemplo, o do ebola ataca diversos órgãos e tecidos da vítima, como os vasos sanguíneos e os músculos, liquefazendo-os. “Os músculos basicamente se tornam uma gelatina”, exemplificou.

Após a exibição do filme, dr. Nilton falou de seu trabalho e do panorama que presenciou em três décadas de carreira. “Vimos muitas coisas acontecendo em São Paulo. Tivemos problemas, por exemplo, com a encefalite, o sarampo e com a hantavirose. É um trabalho intenso para combater as doenças. E, mesmo assim, pode acontecer, por exemplo, de os vírus voltarem a se manifestar amplamente depois de algum tempo”, explicou. “O maior inimigo em grande parte dos casos é, entretanto, o pânico, o medo e a desinformação”, disse, ressaltando, também, que o retorno à verba investida em prevenção pode chegar a dez vezes o valor original.

Realizando um mapeamento em São Paulo, por exemplo, os médicos descobriram aumento em casos de sífilis em um público específico: mulheres que se prostituem em áreas pobres para consumirem drogas com a renda obtida. “Essas mulheres podem parar de pensar em qualquer outra coisa e só dar atenção à oportunidade de obter mais drogas. Com isso, acabam contraindo doenças sexualmente transmissíveis, muitas vezes transmitindo-as também aos filhos, em caso de gravidez”, afirmou.

Sobre os cuidados para evitar que pessoas infectadas ingressem no Brasil e espalhem a doença, Nilton explicou que há um grande plano de contingência elaborado para a prevenção, caso haja necessidade. “Há todo um sistema preparado para isso. Se houver alguma suspeita de infecção em um avião, uma equipe preparada certamente estará no aeroporto à espera da chegada do avião com a pessoa. Muitos profissionais treinam, constantemente, para atuar em casos assim”, afirmou.

Em meio à sequência de perguntas relacionadas ao ebola, Nilton lembrou que, apesar de o vírus ter ganho grande destaque na mídia recentemente, há doenças letais mais recorrentes que podem trazer mais preocupação à saúde da população. “Atualmente, o ebola parece um vírus extremamente comum de ser encontrado, mas não é assim. Quando constatamos alguma suspeita, as primeiras preocupações que passam em nossas cabeças estão relacionadas à malária e à febre tifoide, por exemplo”, completou.

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