Dantiano dono de startup na área da saúde apresenta solução inovadora em evento nos EUA

Publicado em 23 de abril de 2024 às 9:30
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Em março deste ano, o ex-aluno Franco Kraiselburd realizou um dos grandes sonhos de sua vida: apresentar-se no South by Southwest (SXSW), conhecido mundialmente por suas conferências e festivais que celebram a convergência entre as indústrias de cinema, de televisão e de música. Realizado na cidade texana de Austin (EUA), o evento também é destino de profissionais provenientes de diversas áreas e de diferentes partes do mundo, promovendo sessões, showcases, exposições e oportunidades de networking

Nascido em Boston, nos Estados Unidos, o estudante de engenharia biomédica foi classificado entre os cinco finalistas do Innovation Awards após ter sua candidatura aprovada em um rigoroso processo de seleção. Nessa categoria competem as inovações de maior destaque entre os trabalhos inscritos, lançando luz sobre uma variedade de avanços tecnológicos, conquistas e descobertas. 

Diante de um auditório lotado, Franco tinha meros três minutos para falar um pouco sobre sua história e apresentar a startup da qual é proprietário, a Asclepii, e seu principal produto, o Artemis – estrutura 3D de baixo custo cujo objetivo é tratar úlceras de pé diabético, feita de um material semissintético que serve como plataforma para incorporar novas tecnologias e atender diferentes necessidades na área de engenharia de tecidos. 

“Foram oito anos em três minutos. Eu sabia que estariam presentes 300 potenciais investidores da empresa, pessoas com experiência na área de empreendedorismo. Eu estava muito ansioso”, confessa o aluno da Case Western Reserve University,  segundo quem todo o seu projeto de vida está intrinsecamente ligado ao programa de pré-iniciação científica do Dante, onde estudou entre 2015 e 2019. “Sinceramente, eu devo tudo o que fiz, faço e vou fazer ao Cientista Aprendiz. Ele não só me ajudou a definir quem eu quero ser como cientista mas também possibilitou que eu fizesse coisas espetaculares.”

Nesta entrevista, além de contar sua experiência no SXSW, o jovem pesquisador de 22 anos explica o funcionamento de sua maior invenção – que pode receber um significativo aporte financeiro graças à sua participação no evento em Austin –, relembra o início de sua trajetória como cientista e valoriza a importância do Dante em sua formação acadêmica e pessoal. 

Ex-aluno do Dante, Franco Kraiselburd faz apresentação no SXSW 2024
Franco Kraiselburd apresentou sua startup em auditório no South by Southwest 2024

Colégio Dante Alighieri: Como foi sua experiência no South by Southwest? 

Franco Kraiselburd: Foi uma experiência de outro mundo. Eu tinha o sonho de fazer um pitch no South by Southwest desde muito pequeno. Uma coisa que você percebe quando chega lá é que a parte central da cidade (de Austin), a parte mais metropolitana, fica completamente comprometida para o evento. Todos os bares, restaurantes e hotéis, ou seja, todos os espaços ficam comprometidos para o SXSW. É um evento gigantesco. Fazer um pitch lá é bem difícil. As applications começam muito cedo. Eu sabia que ia fazer o pitch desde dezembro do ano passado. Foram quatro, cinco meses de coaching – eles têm vários coachs que trazem muito conhecimento em fazer pitch. E é um evento muito bem produzido, de muita mídia e muitas conexões. A experiência em si foi espetacular, teve muita estrutura, muito mais do que eu esperava.

CDA: Qual foi a sensação de apresentar seu trabalho para tantas pessoas?

FK: O negócio é o seguinte: você se prepara durante quatro meses para dar um pitch de três minutos. Para mim foram oito anos em três minutos. O desafio é conseguir “vender” sua startup do melhor jeito possível. Eu sabia que estariam presentes 300 potenciais investidores da empresa, pessoas com experiência na área de empreendedorismo. Eu estava muito ansioso. Foi um momento de muita ansiedade, porque eu estava preocupado em honrar todo o trabalho e a jornada que trilhamos para chegar aonde chegamos. É uma honra participar do SXSW, mas apresentar em três minutos é algo muito difícil. Acabei conseguindo seguir todo o roteiro que tinha preparado. Fui o único da minha categoria que realmente acabou o pitch em três minutos. Depois, nas perguntas, você tem seis minutos para responder, então eu fui muito bem com o tempo, porque eu me preparei muito para isso.

CDA: Como foi o feedback de sua apresentação? 

FK: Nosso feedback foi muito positivo. Acabamos não ganhando o prêmio da categoria. Uma competição de pitch é muito sobre a “atmosfera” da sala, do lugar onde você está. Às vezes, há algum juiz que tem uma conexão pessoal com algum outro produto. Para mim, o elemento internacional é uma coisa muito empolgante. O fato de envolvermos pesquisadores não só da USP mas também do Instituto Tecnológico de Monterrey (México), da Universidade de Oviedo (Espanha), da Case Western [Reserve University], nos Estados Unidos, e da Universidade de Valparaiso (Chile) é muito empolgante. Mas essas palavras não têm o mesmo significado para pessoas nos Estados Unidos. 

Dois dos cinco juízes foram falar comigo e ofereceram um investimento. Inclusive, estamos considerando fechar um investimento numa rodada de 3 milhões de dólares. Um deles especialmente amou a ideia, achou superinspiradora e empolgante e se sentiu muito conectado com isso, então consideramos que ganhamos. Só de estar lá como finalista já é ganhar. Todas as conexões e todo o reconhecimento e o prestígio que recebemos por termos apresentado nosso trabalho valem ouro.

Dantiano Franco Kraiselburd no SXSW 2024

CDA: E como você avalia sua apresentação?

FK: Eu sou muito crítico comigo mesmo, mas acho que esse pitch foi um dos melhores que já fiz. O ritmo e a fala foram muito bons. Eu me senti como um vencedor, porque a primeira coisa que as pessoas falaram depois de eu ter apresentado foi: “Independentemente do que acontecer, você não vai parar”. Ouvir isso é o maior elogio que um empreendedor pode receber. Só por causa disso eu fico muito contente.

CDA: No Dante, você precisou apresentar trabalhos em três minutos também. Essa experiência o ajudou no SXSW? 

FK: Sim, definitivamente. Tive aulas complicadas no Dante que eram academicamente desafiadoras, mas o que o Colégio tem que eu amo bastante é o espaço oferecido para o aluno ir além da aula. O Cientista, por exemplo, me deu a oportunidade de aprender desde cedo a lidar com essas situações e gerar uma metodologia interna de como vou encarar desafios. Isso me ajudou muito a ter uma forma de pensar diferente, como empreendedor. Então, quando cheguei ao pitch, mesmo nervoso, estava tranquilo também, sabendo que representava ali as pessoas de que gosto muito, com que venho trabalhando há oito anos, e estava contente por isso. O Dante me deu um espaço grande para poder desenvolver uma metodologia própria para lidar com essas situações. Acho que é uma escola espetacular por causa disso. O Colégio fornece um lugar para os estudantes irem além, o que é uma coisa muito potente.

CDA: Você escolheu sua mãe como acompanhante no evento. O quão especial foi poder contar com a companhia dela? 

FK: Eu comecei o meu projeto há muito tempo. Na época, tivemos uma situação familiar em que eu acabei morando sozinho em São Paulo (eu tinha entre 15 e 16 anos). E minha mãe, Laura, teve que fazer um sacrifício gigantesco. Estávamos morando juntos, e minha mãe conseguiu um trabalho no Chile, ou seja, ela precisava se mudar para lá. Mas eu falei para ela que gostaria de ficar no Brasil e fazer o meu projeto, já que estava trabalhando com a USP. Minha mãe sabia que o Dante era uma boa escola e me deixou ficar no Brasil. Ela é a minha primeira investidora, porque eu acabei decidindo perseguir o meu sonho, o que nos levou a perder muitos momentos como mãe e filho. Quando eu tive a oportunidade de ir para o SXSW e escolher uma pessoa, ninguém da minha empresa ficou bravo quando eles viram que eu escolhi a minha mãe, porque eles conhecem a nossa história. 

Eu falava para minha mãe desde pequeno que queria participar de pitches do SXSW, então decidi levá-la comigo, e ela amou. Ela tem uma energia espetacular. Lá, ela conheceu o Mark Cuban, [apresentador] do Shark Tank [reality show de empreendedorismo], o dono do Dallas Mavericks, e ela tirou uma foto com ele. Ela adorou.

CDA: Você poderia falar um pouco sobre o Artemis? O produto já está sendo aplicado em pacientes? 

FK: O produto já está sendo aplicado em pacientes. Estamos fazendo alguns tryouts (testes), mas são pequenos, não é nada substancial ainda. Na USP, eu fiz um hidrogel – um gel à base de água, como uma pomadinha. O hidrogel tinha uma eficiência muito boa. Os fatores de crescimento e as proteínas que eu estava colocando nas células dos ratinhos tinham muito efeito. No entanto, um dos meus mentores, nas conversas que tínhamos sobre o assunto, me mostrou que o negócio não seria escalável, ou seja, não teria um potencial de ser barato e acessível em escala global para atingir uma grande quantidade de pessoas. 

O meu primeiro protótipo era muito bom em fazer um sistema de entrega de proteínas de forma eficiente e controlada, mas a proteína tinha que ser colocada a -80°C, então é necessário usar um caminhão ultragelado para ter certeza de que a proteína não vai desnaturar com a temperatura. Imagine ter que fazer isso para uma crise global tão grande. Deve haver uns 300 milhões de pessoas com diabetes. Imagine chegar a todas essas pessoas. É muito difícil. O diabetes é uma epidemia silenciosa. O Artemis nasceu porque percebemos que havia uma necessidade muito grande de fazer uma solução que consiga de alguma forma apresentar escalabilidade de manufatura.

O ex-aluno do Dante Franco Kraiselburd fundou startup nos EUA

CDA: Qual é o funcionamento do Artemis? 

FK: O Artemis, em vez de ser um hidrogel com proteínas, é uma estrutura completamente seca com um certo nível de porosidade, como uma esponja, que torna o ambiente perfeito e estimula suas células a produzir proteínas. As células grudam no Artemis instantaneamente. Ao grudar no Artemis, a célula já sobrevive e se liga a outras células. Além disso, ao estar nesse ambiente, ela começa a produzir fatores para estimular o crescimento das células. O Artemis não entrega proteína, mas cria um ambiente propício para que a proteína seja produzida. Esse é o diferencial. É uma estrutura muito mais estável e aguenta uns três anos em temperatura ambiente. 

CDA: Os primeiros resultados do Artemis são promissores? 

FK: São muito promissores. Estamos conseguindo otimizar o crescimento das células. Uma vez que elas já começaram a crescer, não é possível parar, mas o difícil é o começo. O maior desafio do engenheiro de tecido é conseguir fazer com que uma célula seja capaz de se reproduzir rapidamente e cedo. Fomos capazes de demonstrar uma diferença em cerca de dez vezes entre o crescimento celular no nosso polímero em relação a outros polímeros. É muita coisa. O Artemis, comparado a outros produtos, apresenta uma atividade dez vezes maior e um crescimento dez vezes maior. Isso quer dizer que você tem dez vezes menos potencial de ter cicatrizes e dez vezes menos potencial de sofrer uma amputação.

Artemis: criação do ex-aluno Franco Kraiselburd visa tratar úlceras do pé diabético

CDA: Qual é a importância do Dante e do Cientista Aprendiz em sua formação acadêmica e pessoal? 

FK: É uma importância imensurável. Não há como medir. Eu sempre vou ser grato ao Cientista Aprendiz. Sinceramente, eu devo tudo o que fiz, faço e vou fazer ao Cientista Aprendiz. Ele não só me ajudou a definir quem eu quero ser como cientista mas também possibilitou que eu fizesse coisas espetaculares. O Cientista Aprendiz é simplesmente um exemplo fundamental da importância de acreditar no poder do jovem, no poder da ciência e no poder de dar a oportunidade para uma criança sonhar e oferecer toda a estrutura necessária para isso acontecer. O Dante, por meio do Cientista, forneceu uma estrutura inigualável para mim, que vai além da sala de aula.

CDA: Houve algum professor em especial que contribuiu para isso? 

FK: No meu caso, a Carolina Lavini [coordenadora de segmento do Ensino Fundamental 2 e coordenadora de ciências da natureza] foi a minha mentora. A paixão da Carol foi contaminante, foi uma coisa que marcou minha vida. Para você ter uma noção do impacto que a Carol e o Cientista tiveram na minha vida, comecei a trabalhar com a USP enquanto estava no Dante. Depois disso, eu estava tão apaixonado pela área de células-tronco mesenquimais que eu fui trabalhar no laboratório do homem que descobriu essas células, que foi o Arnold Caplan. Muitas pessoas não entendem a diferença que um programa como o Cientista Aprendiz pode fazer na vida dos alunos. Morando sozinho, eu não tinha para onde ir às vezes, então eu ia para a oficina do Cientista e desenvolvia meu projeto com o pessoal de lá. O programa é absurdo, não tem igual. Nunca vi um programa assim. E fez muita diferença na minha vida. 

Liceo Scientifico, opzione Scienze Applicate - Scuola Paritaria Italiana Cambridge - English Qualifications Mizzou - University of Missouri
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