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Entre os meses de agosto e setembro, uma oficina de escrita criativa envolveu um intercâmbio cultural entre alunos do Dante e alunos da Fundação Julita, organização não governamental localizada na zona sul de São Paulo que atende cerca de 1,2 mil pessoas em situação de vulnerabilidade social, entre crianças e adultos. Com o apoio da diretoria pedagógica e do Departamento de Marketing do Colégio, a Oficina Olhos Coloridos foi ministrada em quatro sábados (13 e 20 de agosto e 3 e 10 de setembro), considerando dois dias no Dante e dois dias na Julita, alternadamente.
Idealizada ainda em 2021 como parte das ações comemorativas ao 110-700 (aniversário de 110 anos do Colégio e de 700 anos da morte de nosso patrono, o poeta italiano Dante Alighieri), a oficina teve como proposta conferir uma maior liberdade e autonomia ao processo de escrita, de modo que os participantes, com cerca de 15 a 17 anos, pudessem voltar o olhar para si e seu entorno e se expressar como quisessem por meio dos gêneros textuais de sua preferência. Para isso, eles aprenderam o conceito de escrevivência, de Conceição Evaristo, que se fundamenta na escrita de uma vivência subjetiva.
“Pensamos em uma abordagem que desse liberdade para que os adolescentes se expressassem da maneira que julgassem melhor, e o conceito de escrevivência permite uma maior liberdade ao processo de escrita. É, na atualidade, a proposta que possibilita a quem escreve estar presente de fato na escrita, falando sobre si e sobre coisas que nos atravessam”, explica a jornalista Eliane Almeida, que ministrou a oficina e é idealizadora do projeto – que ainda não havia sido inaugurado com nenhuma outra instituição de ensino.
De maneira a complementar esse estudo, Eliane passou pelos trabalhos e biografias de autores que, de alguma forma, tivessem relação com o tema, como Machado de Assis, Nelson Rodrigues e Carolina Maria de Jesus, além de destacar o legado que a obra de Dante deixou para a literatura mundial. “Eu estava buscando ícones da nossa literatura e formas de escrita distintas. Umas mais próximas da escrevivência, outras mais afastadas.”
O resultado foi um sarau realizado na Fundação Julita em que foram lidos os textos produzidos no decorrer das aulas, além de uma atividade em grupo na qual os alunos escreveram um poema (leia abaixo) sobre a experiência que tiveram ao longo dos encontros. No mesmo dia, os participantes se divertiram em uma oficina de maracatu, podendo tocar os instrumentos do ritmo musical, experienciando a forma de linguagem corporal.
A parceria propiciou uma rica troca de experiências entre os adolescentes. De início, os dantianos foram os anfitriões e receberam muito bem os novos colegas, que devolveram a gentileza quando os papéis foram invertidos. “As diferenças não foram um problema para nenhum deles. Alguns são mais tímidos, outros são mais extrovertidos, mas no geral eles se entenderam muito bem, e eu estou muito feliz com o resultado. Foram quatro encontros de extrema troca”, celebra Eliane.
Confira os depoimentos:
Leia o poema produzido de forma coletiva pelos participantes da oficina:
13/08
Ideias e conceitos.
Medos e preceitos.
Normas e regras
em contraposição com ideias.
Dante e Conceição
em apenas uma visão
quebras e amizades
em apenas uma cidade.
20/08
Entre árvores e pios
uma história aqui surgiu
com gente como a gente
nada fica diferente.
Mesmo com poucos
ficamos soltos.
Apesar do infrequente
a produção é surpreendente.
03/09
Um conceito nos apresenta
um novo tipo de escrita
chamado escrevivência
apresentamos à senhorita.
Falamos sobre nós
para nos descobrirmos.
Estudamos nossos avós
para mais próximos nos sentirmos.
10/09
Um lugar novo para tu
E conforto para outros.
Tanto como maracatu
aqui não existe monstros.
Risos e incertezas
ao tocar a alfaia.
Lideram com destreza
em direção à praia.