Professores fazem imersão no uso de tecnologia

Publicado em 3 de outubro de 2014 às 15:52
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Qual é a importância do uso de novas tecnologias na educação? Que tipos de oportunidades e riscos elas podem trazer às escolas? Há uma fórmula de sucesso para que as ferramentas revolucionem o ensino?

Na busca de respostas a questões como essas, professores envolvidos com o uso de tecnologia educacional assumem hoje posição de vanguarda, seja pela participação em debates sobre o tema, seja pela proposição de experimentos que aproximam os alunos da aplicação desses recursos em sala de aula. Organizações do terceiro setor também procuram novos paradigmas na educação, como é o caso da Fundação Lemann e do Instituto Península, que criaram um núcleo de estudo denominado Grupo para Experimentações em Modelos Híbridos. O grupo é composto por 16 professores de diferentes escolas públicas e particulares de quatro estados do Brasil. A proposta do projeto é estudar os impactos gerados na aprendizagem pelo chamado ensino híbrido (‘blended learning’), conceito que se caracteriza pela oferta mista e conectada de conteúdo presencial e on-line na educação de crianças e adolescentes.

A professora do Departamento de Tecnologia Educacional Verônica Martins Cannatá é uma das integrantes desse grupo. Em 24 de julho, o Dante celebrou o encerramento do primeiro bloco do curso, realizado em oito semanas. Na ocasião, os integrantes do grupo apresentaram as atividades desenvolvidas durante os últimos dois meses, e cuja elaboração se baseou nos desafios propostos pelos responsáveis pelo curso. É importante destacar que o projeto está sendo realizado experimentalmente com o apoio dos professores e das escolas em que estes atuam, e que o próprio curso do qual o grupo participa vem sendo modelado conforme a Fundação Lemann e o Instituto Península recebem feedbacks.

O professor Adolfo Tanzi Neto, consultor pedagógico e de pesquisas no campo de blended learning na Fundação Lemann, é um dos instrutores do grupo. Segundo ele, falar de tecnologia em sala de aula não é mais uma opção, e a inegável vantagem de seu uso já não se concentra nos benefícios individualmente auferidos, senão no potencial que a correlação de tais ferramentas confere ao próprio ensino.

“Por isso, pedimos aos professores que descrevam o que têm feito de inovador em sala de aula com relação ao uso misto de tecnologias e ferramentas. E então passamos a discutir o uso de vídeos, de tablets, de cursos on-line, como os da Khan Academy, e de ferramentas que têm surgido no mercado, além das práticas ideais para a inserção dessas novidades no sistema escolar”, explica o professor.

Para promover essas mudanças, Adolfo considera indispensável recorrer à prática do que se convencionou denominar “ensino personalizado”. “O aluno do século 21 traz, cada vez mais, conhecimentos variados. E, para abranger as necessidades de cada um, personalizamos as práticas de tal modo que o aprendizado ocorra com sucesso.”

Essa personalização leva em conta a realidade da comunidade de cada escola, e isso inclui compreender a infraestrutura da qual se veem rodeados o aluno e o professor. E, no tocante às novas tecnologias, as respostas mostram estar longe do lugar-comum de que a inserção de novas ferramentas, sem os cuidados de uma proposta concreta, deve ser o pilar das mudanças vislumbradas.

Juliana Cavalcante, coordenadora de projetos da Fundação Lemann, destacou que a proposta desse curso experimental é justamente conhecer novos paradigmas a partir de várias perspectivas de profissionais que já atuam na área há algum tempo buscando soluções. “É fundamental trabalhar com professores com experiência no uso de tecnologia em sala de aula e que tenham autonomia, pois grandes inovações podem surgir dessa liberdade que eles têm. É um grande aprendizado, também, que temos para tentar montar um programa direcionado àqueles que querem se aprofundar no ensino híbrido”, disse.

Para ela, a ampliação do foco de análise não pode prescindir da consideração de elementos de natureza social. “Há um motivo forte para isso: a tecnologia está presente fora das instituições de ensino, e nem todas as escolas estão acompanhando essa mudança. A ideia está longe de simplesmente implicar na inserção da tecnologia no ensino tradicional.”

A professora Verônica Martins Cannatá assinala que a exposição de realidades sociais claramente diversas está sendo muito enriquecedora. “Embora tenhamos realidades tão diversificadas nas escolas brasileiras, todos têm o mesmo objetivo: colaborar para uma educação melhor. Nesse grupo, há uma demanda muito grande de estudos. A dedicação de todos é imensa. Passamos bastante tempo preparando os desafios semanais, e a troca é muito valiosa. Estou aprendendo muito e espero poder multiplicar esse conhecimento com outros professores do Dante”, afirmou.

Ainda de acordo com a professora Verônica, essa troca de experiências acaba por reverter na adoção de soluções comuns. “Admiro como as escolas públicas conseguem revolucionar a educação com os recursos de que dispõem. E os professores das escolas públicas conseguem, ao ver os investimentos realizados pelas escolas particulares, pensar em adaptações para a realidade na qual atuam. A ideia é pensar na educação como um todo, e não segmentando entre educação pública e privada. São professores que conversam diretamente com outros professores sobre como aprimorar as aulas, e é excelente ver como a proposta única é trabalhada em meio à diversidade”, observou.

A professora Lilian Bacich, que também atua como consultora do projeto e representa o Instituto Península, concorda com a professora Verônica no tocante à reduzida importância dos recursos materiais disponíveis para as escolas. “Não acreditamos que o ambiente dificulte ou facilite a utilização de um modelo híbrido de ensino. Professores envolvidos, interessados, sempre são capazes de encontrar formas de atingir seus objetivos, em quaisquer realidades. Temos, em nosso grupo, professores que trabalham em escolas que dispõem de todos os recursos possíveis para o modelo funcionar e outras que apresentam menos recursos, e todos têm conseguido oferecer excelentes oportunidades de aprendizado aos seus alunos. Essa vontade do professor de querer aprender sempre mais para que sua atuação seja cada vez melhor é que faz toda a diferença”, disse.

A valorização do empenho do professor é, aliás, um ponto para o qual a professora Lilian também chama a atenção. “Em um modelo híbrido de ensino, espera-se que os professores possam explorar outras formas de inserir as tecnologias digitais com o objetivo de buscar algum nível de personalização. Quando os alunos trabalham em grupos, por exemplo, tendo objetivos claros a serem alcançados, o professor tem a possibilidade de acompanhar um número menor de alunos e identificar suas dificuldades e facilidades, contribuindo para que seus alunos aprendam mais e melhor. A tecnologia digital pode contribuir para uma avaliação objetiva, mas nada substitui o olhar do professor”, ponderou.

A coordenadora do Departamento de Tecnologia Educacional, professora Valdenice Minatel, afirmou que a busca por inovação deve ser um movimento constante. “A escola, assim como a sociedade, está em constante movimento, tentando se reinventar com essas novas possibilidades, em particular as tecnológicas”, disse, sem deixar de frisar o valor do debate em torno do tema. “É muito significativo ter uma possibilidade de reflexão tão grandiosa com tanta gente que busca aprimorar a qualidade da educação.”

Ensino personalizado, híbrido e on-line

Os interessados em aprender um pouco mais sobre conceitos como “ensino personalizado” e “ensino híbrido” podem descobrir na internet diversas fontes qualificadas de informação. O portal de educação Porvir, por exemplo, publicou, recentemente, um especial sobre ensino personalizado. A respeito do significado do próprio conceito, o portal destaca: “O termo se refere a uma série de estratégias pedagógicas voltadas a promover o desenvolvimento dos estudantes de maneira individualizada, respeitando as limitações e os talentos de cada um. Ele leva em consideração que os alunos aprendem de formas e em ritmos diferentes, já que também são diversos seus conhecimentos prévios, competências e interesses.”

No especial, os leitores encontram seis “cases” de referência. Neles, constata-se, por exemplo, que o uso de ferramentas tecnológicas não é o fator determinante do sucesso que o ensino terá, até porque nem sempre é a tecnologia a responsável pelas mudanças no programa educativo de uma instituição. No geral, o que transparece na leitura é que, sem uma verdadeira disposição para repensar o papel da educação no próprio ambiente escolar, os professores tornariam sem efeito qualquer iniciativa de enriquecimento do processo educacional.

O Brasil viu, recentemente, outro grande exemplo dos ganhos com inovações em sala de aula: jovens da Fundação Casa se classificaram à etapa final da Olimpíada Brasileira de Matemática estudando na Khan Academy, plataforma aberta de ensino em diversas áreas que serve de referência à aplicação do ensino híbrido. (Veja, aqui, reportagem da Rede Globo.)

A Khan Academy conta, também, com o que se determinou chamar de “gamificação”: ao longo do curso, os estudantes ganham pontos e insígnias à medida que consolidam seus conhecimentos em jogos nos quais o desafio é superar níveis mais elevados de dificuldade. Esse é um dos modos pelos quais a academia estimula o aprendizado em idades variadas (a propósito, a competição saudável gerada pela pontuação foi objeto de menção por parte do aluno entrevistado na reportagem). No Brasil, a Fundação Lemann é responsável pelo trabalho com a Khan Academy.

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