Pais e educadores se reúnem em roda de conversa

Publicado em 11 de novembro de 2014 às 17:30
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O Colégio Dante Alighieri realizou, em 6 de novembro, a segunda Roda de Conversa entre Pais e Educadores. O tema da vez foi a formação para o consumo consciente. Apesar de, em princípio, o tema ser direcionado à educação de crianças e adolescentes, muito do que se falou também envolveu a conscientização dos próprios pais.

Seguindo a regra de trazer apenas profissionais que também tenham filhos matriculados na instituição, o Dante recebeu duas especialistas no assunto: Maria Tereza Saraiva de Souza, professora na FGV com mestrado em gestão ambiental e doutorado em sustentabilidade (ambos também pela FGV), e Elisa Homem de Melo, jornalista com mestrado na área de sustentabilidade pela Universidade do Texas. O encontro foi conduzido pela coordenadora do Serviço de Orientação Educacional, professora Elenice Ziziotti, e pela coordenadora do Departamento de Tecnologia Educacional, professora Valdenice Minatel.

Cinco tópicos centrais foram abordados: a economia dos recursos, os “3Rs” (reduzir, reutilizar e reciclar), o planejamento do consumo, as compras sustentáveis e a educação para a sustentabilidade. Apesar da separação oficial dos assuntos, os temas invariavelmente se correlacionaram no decorrer da conversa. A professora Valdenice começou questionando as especialistas sobre o tipo de impacto causado pelo hábito de se ouvir que o Brasil é um país de fartos recursos, sem que a informação seja, porém, acompanhada da tentativa de conscientização sobre o uso consciente. A indagação envolveu o debate sobre os danos ambientais que as ações da humanidade geram no longo prazo.

Segundo as especialistas, a função de todos os que conhecem hábitos sustentáveis é difundir bons costumes e dar o exemplo. Para Elisa, falta maior atenção até mesmo do poder público. “A seca em São Paulo, por exemplo, também envolve sério problema de gestão. Mas temos coisas ruins acontecendo cada vez mais, em todos os lugares, e é importante pensarmos no caminho que as próximas gerações vão seguir”, afirmou, destacando ainda o cuidado com a formação educacional. “Muita gente não tem acesso à educação sobre esse assunto, e cada um de vocês deve passar informações embasadas aos outros para que todos entendam como estamos impactando o mundo.”

Maria Tereza, por sua vez, ressaltou que a humanidade está tardando a tomar atitudes de grandes proporções. “O aquecimento global pressiona cada vez mais as regiões com climas secos ou inundações, e isso por diversas razões, entre as quais a falta de áreas verdes. Muitos falam em desmatamento zero, mas quando é que isso realmente acontecerá? Quando de fato não tivermos mais o que desmatar?”, indagou.

Ao abordarem alguns meios a que empresas têm recorrido para compensar o impacto causado no planeta, as professoras citaram exemplos de redução na emissão dos poluentes e lembraram a tentativa de neutralização do impacto no meio ambiente. “A construção civil é uma das áreas que mais utilizam água, ficando atrás apenas da agricultura. E não há como ela não usar água. Por essa razão, precisa recompensar o planeta de alguma forma”, apontou Elisa. No tocante a ações individuais ou de empresas, as professoras ressaltaram a importância de se levar em conta a hierarquização dos 3Rs, sigla que responde pelo ideário de redução, reutilização e reciclagem.

Como exemplo dessa estratégia, a professora Maria Tereza relacionou algumas formas pelas quais ela já vem sendo executada. “O primeiro passo é reduzir a emissão. Há empresas que deixaram de oferecer brindes em eventos, como pastas, folders e canetas, garantindo a diminuição na geração de resíduos. Quanto à neutralização, as empresas calculam o índice de emissão de gases para a realização do evento planejado e buscam compensar a situação plantando árvores o suficiente para capturar os poluentes em determinado tempo”, explicou.

Quanto à conscientização infantil, as especialistas ressaltaram que as crianças tendem a ouvir e seguir o exemplo dos pais. Elisa exemplificou a situação dizendo que os pais podem conscientizar os filhos buscando brinquedos com procedência sustentável. “Não é questão de não consumir mais, e sim de educar nossos filhos. Será ótimo os pais mostrarem que as empresas que fabricam os brinquedos encontrados nas lojas estão fazendo algo pelo meio ambiente, ajudando a sociedade”, disse. “Buscar a procedência da tinta utilizada nos brinquedos e falar disso com as crianças é um bom exemplo.”

Maria Tereza, por sua vez, comentou os passos que, entre o pensar e o agir, devem ser dados no sentido de uma maior consciência ambiental. “É uma situação que passa por três etapas. A primeira delas é conscientizar os consumidores, algo que tem ocorrido de modo crescente. O segundo é nos perguntarmos o que podemos fazer para mudar a realidade. E o último é mudar, de fato, o nosso comportamento. É aí que está o grande desafio”, ressaltou Maria Tereza.

A plateia também se manifestou em diversas ocasiões. Em uma delas, um profissional do mercado financeiro falou da tentativa desse setor em colaborar com a sustentabilidade concedendo empréstimos apenas a empresas que tenham licenciamento ambiental. Sobre o Dante, vários comentários e sugestões foram dados.

Uma mãe disse, por exemplo, que foi no Dante que viu, pela primeira vez, uma torneira de água aerada (mais econômica), uma ferramenta que, por mais que tenha um custo operacional complementar (da troca de uma torneira por outra), tem resultados positivos na redução do impacto ambiental. Pais e mães também perguntaram sobre o trabalho de sustentabilidade realizado no Colégio, ocasião em que se relatou o reaproveitamento dos livros didáticos dos alunos – algo que, entretanto, nem sempre é praticado entre os próprios alunos do Dante.

A coordenadora do Serviço de Orientação Educacional, professora Elenice Ziziotti, salientou que a instituição busca reaproveitar todo o material possível. “É assustador ver quantos livros didáticos são largados nos armários, ainda novos, no fim do ano. Passamos recolhendo tudo e, assim como fazemos com outros bens no Dante, o destino dos itens é o reuso ou a doação a quem puder utilizá-los de modo mais eficiente”, disse.

Outra mãe comentou que, apesar das atividades em favor da sustentabilidade realizadas no Dante, seus filhos raramente reproduzem, em casa, as ações que espelham essa maior conscientização ecológica. Nesse ponto, as especialistas lembraram que, por mais que todos no Dante participem das mesmas atividades, o impacto delas não será necessariamente o mesmo em cada um deles.

No entender de Elisa, a baixa receptividade à adoção de novos comportamentos é, de fato, um fenômeno comum. “É muito difícil atingir alguém pelo subjetivo. Você pode falar que em breve viveremos uma falta de alimentos, mas, se a pessoa nunca viu faltar comida em uma feira, por exemplo, ela não compreenderá a mensagem em sua totalidade”, disse.

A professora Elenice também deu um exemplo de um gesto trivial, mas que pode significar uma considerável redução de consumo no decorrer dos anos. “Conversei, hoje, com um aluno sobre o modo com que ele usava o caderno. Fiquei assustada ao ver que ele deixava várias páginas em branco, principalmente para separar seus textos por data. E então eu perguntei se ele tinha ideia de quantas árvores poderiam ser prejudicadas com esses incontáveis espaços brancos, para depois sugerir que as anotações fossem separadas com um risco, e não pulando as páginas”, relatou.

A orientadora educacional Claudia Meletti também comentou o papel da escola e das famílias na conscientização das crianças. “Parece que hoje temos um entendimento mais solidário do conceito de sustentabilidade, levando muito mais em conta o âmbito coletivo. E a escola tem um papel muito importante, pois também temos a responsabilidade de pensar o presente e o futuro. Aprendemos muito com nossos alunos, mas muitas vezes não lhes damos forças para seguir em frente, mesmo que eles sejam muito mais iluminados e saibam bem que essa é uma questão coletiva, e não individual”, afirmou. “Precisamos aprofundar as reflexões, pois isso será cobrado de nossos filhos e dos filhos deles.”

Para encerrar o evento, Maria Tereza ressaltou a posição do Colégio em prol da incorporação de hábitos menos dispendiosos, o que passa invariavelmente pela redução do consumo exacerbado e pelo desapego a bens não fundamentais por parte de toda a população. “Só consumimos tudo isso hoje porque grande parte da população não consegue consumir tanto quanto nós. Os países do norte do planeta, por exemplo, contabilizam aproximadamente 80% de todo o consumo do mundo. Não há um jeito de o mundo inteiro consumir como esses países. Outros continentes consomem uma parcela mínima disso, e a única maneira de ajudar é mudando e contribuindo com a causa”, ponderou.

Elisa, por sua vez, lembrou que a informação bem embasada também faz grande diferença. “Dados e informações devem fazer parte do nosso cotidiano. Uma troca de informações, uma pesquisa, tudo isso é o que vai fazer a diferença. Falamos, aqui, sobre reutilizar um livro. Como conscientizar os outros sobre isso? Devemos buscar soluções e compartilhá-las”, disse.

Na oportunidade, diversos vídeos e sites também foram apresentados aos pais. Entre eles, estão os portais do Instituto Akatu (veja aqui) e da WWF (veja aqui), em que os interessados podem realizar testes para entender como as atitudes individuais cotidianas impactam o meio ambiente. Aos presentes também foi indicado o vídeo ‘The story of stuff’, que expõe, em 20 minutos, os impactos gerados pelo consumo humano. Para conferir essa produção, clique no link abaixo:

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