E. Médio assiste a módulos sobre G. Fria e Ditadura

Publicado em 30 de agosto de 2013 às 11:51
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O Departamento de História do Colégio Dante Alighieri concluiu, em 20 de agosto, uma série de três módulos sobre os temas Guerra Fria e Ditaduras de Extrema Direita na América Latina, ministrados para a 3ª série do Ensino Médio. As duas primeiras aulas haviam sido realizadas em junho, mas, devido a questões logísticas geradas pelas manifestações populares na Avenida Paulista, o último encontro ficou para a volta às aulas no segundo semestre.

Em 4 de junho, os professores Jackson Farias, Lucas Kodama, Edson Martins Júnior e Diego Lopez (ex-professor do Dante que participou do módulo como convidado) fizeram uma pequena introdução ao assunto “ditadura”. Eles questionaram quem dos alunos era a favor da tortura em determinados casos. Em seguida, falaram do livro “Brasil nunca mais” (que mostra detalhes das sessões de tortura) e mostraram um trecho da minissérie “Queridos Amigos”, exibida pela TV Globo em 2008, em que a mãe de uma vítima da ditadura militar brasileira desabafa diante do homem que torturou e violentou sua filha.

O professor Jackson chamou a atenção para o fato de que os discursos comuns feitos no dia a dia (por exemplo, “tem que torturar bandido mesmo”) podem abrir espaço para pessoas mal intencionadas cometerem atrocidades. O professor Diego, por sua vez, questionou a eficácia da tortura (será que o torturado realmente diz a verdade?), enquanto o professor Edson pediu que os alunos refletissem que tipo de pessoa aceitaria trabalhar como torturador, destacando que essa função, em tese, exigiria alguém extremamente justo e equilibrado. Feita a introdução, os estudantes se dirigiram ao Memorial da Resistência, instalado justamente no prédio do antigo DOPS (Departamento da Ordem Política e Social, depois DEOPS – Departamento Estadual da Ordem Política e Social), local onde eram confinadas as pessoas que caíam vítimas do aparelho repressivo militar.

No Memorial, tendo acesso a depoimentos e imagens, e fazendo visitas a celas, os estudantes puderam conhecer um pouco das atrocidades e violações aos direitos humanos cometidas durante o regime ditatorial (1964-1985).

Segunda parte

Em 11 de junho, a segunda parte do módulo teve início com os antecedentes da Guerra Fria. Em seguida, falou-se sobre a fase de tensão entre Estados Unidos e União Soviética durante os anos de 1945 e 1953 (gerada por episódios como a Guerra da Coreia), passando pela Coexistência Pacífica (entre 1953 e 1959, marcada pela morte do líder soviético Joseph Stálin e pela aproximação da URSS com o Ocidente) até chegar efetivamente ao período de maior conflito ideológico (1959-1973).

Nessa época, houve episódios como a Revolução Cubana, a construção do Muro de Berlim, a Invasão da Baía dos Porcos, a aproximação entre Cuba e a União Soviética, a Crise dos Mísseis, a Guerra do Vietnã e a eclosão de protestos pelo mundo em 1968. Os professores contextualizaram e explicaram o significado de cada um desses fatos dentro da Guerra Fria.

O professor Diego Lopez destacou então a Contracultura surgida nesse período, com os ideais de mobilização dos jovens contestadores do establishment. Segundo a explicação, essas pessoas integravam a geração Baby Boomer (nascidos entre 1946 e 1964), a primeira do século XX a não viver uma grande guerra. Assim, houve um aumento populacional, que não foi acompanhado pelo avanço da estrutura da sociedade, gerando desemprego e insatisfação.

Além do que, ocorreu um conflito de gerações traduzido num choque de princípios entre pais e filhos daquela época. Os jovens, então, tinham como ídolos nomes como os cantores Elvis, Jim Morisson, Jimi Hendrix e John Lennon, e expressavam também a importância de se ter um posicionamento político.

Guerra Fria e ditaduras

A guinada de Cuba para o Socialismo fez os Estados Unidos temerem que toda a América Latina se tornasse uma área de influência da União Soviética. Para evitar tal situação, os norte-americanos incentivaram e financiaram ditaduras de extrema direita nos países latino-americanos.

Coube ao professor Jackson explicar como a sociedade brasileira apoiou inicialmente o que viria a se tornar uma ditadura. Antes, porém, houve a apresentação dos antecedentes do golpe (governo de Jânio Quadros, com sua política de aproximação da União Soviética e, principalmente, de Cuba; a renúncia do presidente; crise interna, governo e reformas de base de João Goulart até a deposição deste).

Com o início da Ditadura Militar, a partir de 1964, são anunciados os Atos Institucionais (AIs), que vão cerceando as liberdades e garantias individuais, gerando diversos conflitos entre a sociedade civil e os governantes . O AI-5, de dezembro de 1968, marca de vez o recrudescimento do regime. Com detalhes, o professor Jackson explicou todo esse contexto.

Parte final

Em 20 de agosto, no módulo final, o professor Lucas Kodama retomou rapidamente os conceitos sobre a Guerra Fria vistos no segundo encontro e, em seguida, passou a tratar do período conhecido como Detente (1973-1979), marcado por uma distensão no conflito.

Contudo, com a ascensão de Ronald Reagan à presidência dos Estados Unidos, os norte-americanos voltaram a incentivar a corrida armamentista. Nessa época, porém, a União Soviética já se encontrava em crise. Em 1989, um dos maiores símbolos da Guerra Fria, o Muro de Berlim, que dividia a Alemanha em duas, foi derrubado. Dois anos mais tarde, a Guerra Fria chegava oficialmente ao seu fim com a derrocada do bloco soviético, dando início à chamada Nova Ordem Mundial.

Ditadura no Brasil

Em seguida, o professor Diego Lopez passou a falar da Ditadura Militar no Brasil, partindo do governo de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974). Nessa época – um dos períodos mais ferrenhos do regime – surge o “terrorismo de Estado”, com o estabelecimento de órgãos como DOPS, DOI-CODI e OBAN, que prendiam, torturavam e, algumas vezes, matavam os opositores dos mandatários. Por outro lado, os inimigos do regime realizavam o “terrorismo de oposição”, através de guerrilhas e grupos como MR-8, VAR-Palmares e VPR.

No campo econômico, havia euforia com o chamado “milagre econômico” – com oferta de crédito extremamente barato, consumismo e endividamento público. Era forte também o ufanismo, tendo como símbolos a vitória da seleção brasileira na Copa do Mundo de futebol de 1970 e, principalmente, a frase: “Brasil, ame ou deixe-o”.

Ernesto Geisel assumiu a presidência prometendo uma abertura “lenta, segura e gradual”. Contudo, o modelo do “milagre econômico” já estava esgotado; no exterior, explodiam denúncias de violência do Estado brasileiro, agravadas fortemente pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog (cuja morte os militares tentaram alegar que fora um suicídio). De todo modo, a censura prévia e o AI-5 chegam ao fim.

O último governo de um presidente militar, João Figueiredo, ficou marcado pela Lei da Anistia, que perdoou todos os crimes cometidos tanto pelos defensores quanto pelos opositores da Ditadura.

Apesar da abertura, o povo ainda não podia eleger diretamente o presidente da República. Foi lutando por esse direito que surgiu um significativo movimento no país na época, as Diretas Já, que acabou promovendo a ascensão de lideranças que marcariam o futuro do país, como Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

As Diretas Já, contudo, não atingiram seu objetivo. Assim, foi por meio de uma eleição indireta que o civil Tancredo Neves foi escolhido presidente em 1985. O político mineiro, porém, morreu antes da posse, cabendo a José Sarney, que sempre esteve ao lado dos militares, tornar-se o primeiro presidente civil do Brasil desde 1964. A Ditadura Militar havia, oficialmente, chegado ao fim.

Um ponto que mereceu destaque no módulo foi o cenário cultural da época – principalmente o musical. A alienação das letras da Jovem Guarda e da Bossa Nova – passando pela extrema complexidade do Tropicalismo – foram contrapostas pelo professor Jackson às chamadas músicas de protesto, com letras que expressavam diretamente os anseios da população (por exemplo, “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré).

O professor contou um pouco da história dos grandes festivais de MPB do fim dos anos 1960 e analisou letras de músicas. “Na época, para a população, a música tinha um papel social, de protesto”, afirmou, destacando a importância de os alunos saberem interpretar a letra das canções e textos culturais, pontos recorrentes nos vestibulares.

“Nossa intenção foi contextualizar a relação entre Guerra Fria e ditaduras na América Latina. Quisemos mostrar aos alunos o que é uma Ditadura, um Estado em que se tortura, se violenta a população. O aluno tem que ter essa consciência, saber o que ocorreu na Ditadura e quais reflexos ela ainda gera em nossa sociedade”, explicou o professor Carlos Roberto Diago, coordenador do Departamento de História.

A aluna Giovanna Cassavia, da 3ª série E, destacou do módulo as situações vividas pelos brasileiros sob o regime ditatorial. “Achei interessante o caso do Vladimir Herzog, as experiências das pessoas que vivenciaram aquele período”, disse a estudante, que pretende prestar vestibular para Arquitetura.

“Acho que o módulo ajuda no vestibular, principalmente, por relacionar o tema à atualidade. Os professores, que sempre se esforçam muito para elaborar os módulos, fizeram comparações dos movimentos populares no período da Ditadura com as manifestações que aconteceram recentemente no Brasil”, afirmou.

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