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Atriz, cantora, aluna dedicada e sonhadora. Assim pode ser definida Erin Bonifacio Borges, estudante que desde a infância nutre paixão pelo teatro. Nascida em Milão, a dantiana foi influenciada não só pela profunda relação de seus pais com o mundo artístico mas também por iniciativa e vontade próprias de vivenciar as artes cênicas. Em fevereiro de 2024, ela concluiu um de seus trabalhos mais desafiadores e prazerosos: a interpretação de Hortensia, personagem de “Matilda – O Musical”, peça inspirada no romance do britânico Roald Dahl, que ganhou versões adaptadas para o teatro e para o cinema.
O espetáculo do qual Erin participou como uma das 28 crianças do elenco infantil teve a direção geral do canadense John Stefaniuk e ficou em cartaz no Teatro Claro do Shopping Vila Olímpia de outubro de 2023 a fevereiro de 2024. Nesse período, mais de cem apresentações foram realizadas, tendo cada uma delas uma duração de cerca de três horas.
Antes de atuar em seu nono musical, a jovem de 14 anos, aluna do 2º Liceo Scientifico, encenou outras adaptações de obras clássicas, como “João e Maria” (2023) e “A Escola do Rock” (2019), além do “Musical dos Musicais” (2022). Como dubladora, ela é a voz de Pixie, coadjuvante em “Kelp: O Unicórnio-do-Mar”, animação presente no catálogo da Netflix. Nesta entrevista, além de explicar como faz para conciliar a rotina escolar com a artística, Erin Borges conta sua experiência no papel de Hortensia, fala sobre como o teatro moldou sua personalidade e revela seus planos de seguir carreira internacional.
Uma peça, um sonho
“Eu gosto de ‘Matilda’ desde pequena. Sempre que eu queria descontrair, eu assistia ao filme. No 5º ano, o Dante nos deu uma lista com sugestões de livros. Entre eles estava ‘Matilda’, e eu me apaixonei ainda mais pela história. O lançamento do novo filme (2022), que é uma adaptação musical, aconteceu na época das audições da peça, e fiquei superanimada porque era uma história que eu amava muito.”
O “sim” para Matilda
“Eu já fiz muitas audições, porque eu faço teatro musical desde os meus oito anos, mas essa especificamente foi uma das mais difíceis que eu fiz. Normalmente as audições costumam durar duas semanas, mas essa durou um mês inteiro, e demorou muito para sair o resultado. Era um musical que eu queria muito fazer, então eu estava com medo de não conseguir passar na audição. No final de junho do ano passado, eu estava em casa quando minha mãe recebeu uma ligação falando que eu tinha sido aprovada. No dia seguinte, eu já tinha que me encontrar com a produção para conversar sobre agenda e horários. Mas deu tudo certo, graças a Deus.”
Remodelando Hortensia
“A Hortensia é um dos únicos personagens infantis que estão desde o livro e o primeiro filme. Ela teve várias mudanças ao longo das adaptações. No livro, era ela quem mostrava a escola para a Matilda e para a melhor amiga dela, a Lavender. Ela era um pouco mais velha do que os outros alunos. Quando a história virou musical, a Hortensia foi adaptada para a mesma idade das meninas, porque era uma sala de aula só. Ela acabou perdendo um pouco da função de quem mostra a escola. Mas, durante a peça, eu sempre tentei trazer um pouco dessas raízes de ela ser um pouco mais velha, para a interpretação da personagem. Sempre brincávamos que eu era aquela que repetiu de ano, porque era bem mais velha do que o resto das crianças, então era como se a Hortensia tivesse repetido de ano algumas vezes.”
Rotina escolar, vida artística
“No caso de ‘Matilda’, os ensaios eram de segunda a sábado, seis horas por dia – é o máximo de horas que crianças podem trabalhar. De um jeito ou de outro, é muito tempo que tínhamos que ficar lá. No currículo regular, só temos um dia estendido, então eu já cheguei avisando a produção que eu tinha esse horário diferenciado e que eu não poderia faltar, porque é horário de aula regular. Mas deu tudo certo no final. Então, sempre que há ensaios, eu faço de tudo para não perder aula.”
Arte, uma herança familiar
“Meus pais entendem de artes cênicas e audiovisuais. Meu pai é pedagogo e já foi produtor teatral e professor de teatro. Minha mãe também fez teatro quando era jovem e foi autora da MTV Itália por muitos anos, então essa proximidade com a arte e o entretenimento sempre foi muito forte na minha família. Mas, por incrível que pareça, meus pais nunca forçaram para que eu entrasse nesse mundo. Eu nasci na Itália e, quando viemos para cá, quando eu tinha quase cinco anos, entendia o português, mas falava só italiano. Como todo imigrante, aprendi que, para sobreviver (risos), precisava aprender o português e em dois meses já falava perfeitamente. Estudar aqui no Dante foi essencial para lidar com aquela grande mudança de país, de idioma e de culturas. E, anos depois, o teatro contribuiu ainda mais para meu desenvolvimento.
Onde tudo começou
“Não sei por que, um dia, no final de 2017, eu disse para os meus pais que queria fazer teatro, e eles me colocaram em um curso de férias na Escola de Atores Wolf Maya. Gostei muito daquela experiência e no começo de 2018 minha mãe me levou em um lugar onde havia duas opções de curso: uma era mais para o audiovisual; e a outra, voltada mais ao teatro musical. Mas eu não sabia muito bem o que era teatro musical, então o coordenador da unidade explicou que dentro desse módulo havia cursos de interpretação, de canto, de dança, de sapateado e de jazz. E eu falei assim: ‘É esse que eu quero’ (risos). Foi assim que entrei no Estúdio Broadway, da diretora e coreógrafa Fernanda Chamma, e, depois de um ano de estudos, participei de um espetáculo sob a direção dela. Foi quando a diretora falou: ‘Você tem que fazer audições para musicais profissionais’. Segui o conselho dela e fiz a audição para a ‘Escola do Rock’, que foi o meu primeiro musical profissional, em 2019, e a partir daí eu engatei um musical no outro.”
Teatro no DNA
“Eu já era bem extrovertida antes de fazer teatro e já tinha a capacidade de falar em público. Com o teatro, essa habilidade se expandiu muito. E, além de conseguir falar, eu também perdi um pouco da vergonha. Eu não tenho mais esse problema com o público. Para mim, o teatro se tornou algo muito maior do que só subir no palco e falar, ou fazer um discurso na frente de alguém. O teatro foi essencial para que eu pudesse me tornar quem eu sou e também para projetar a imagem de como as pessoas me veem hoje em dia. Na sala de aula, quando há um grupo e alguém precisa ir lá na frente para falar, sempre sou eu a escolhida. Só que eu gosto, então não tenho nada contra isso. Acho que isso me ajudou bastante a lidar com as coisas hoje em dia. Todo mundo deveria fazer, pelo menos, uma aula de teatro, porque, além de perder a timidez, você se conecta mais com o seu corpo inteiro. Você se sente mais presente. Às vezes, alguma pessoa tem medo de ficar lá na frente não por vergonha, mas sim por não saber o que fazer com o corpo, então você acaba se conhecendo mais. É muito legal ter essa consciência.”
Inspirações
“Pensando bem, eu não tenho uma única inspiração. Mas eu trabalho diariamente com profissionais que me inspiram muito. São pessoas que têm uma carreira muito longa, que trabalharam e estudaram muito para estarem ali. Meus ídolos são aqueles com quem eu convivo no dia a dia, como os diretores que me dirigem. A cada espetáculo eu sempre tento coletar algo, como alguma dica de alguém que já está há um bom tempo na carreira, e posso aprender com isso.”
Erin Borges em ação na peça “O Musical dos Musicais”, de 2022 (Fotos: Divulgação)
Aspirações
“Eu quero continuar, especialmente, com o teatro musical. Desejo ir para o exterior e tentar oportunidades na Broadway. Mas eu também tenho a consciência de que preciso construir aqui no Colégio um caminho mais sólido nos estudos, principalmente agora que estou no Ensino Médio. Então vou precisar estudar mais e, depois, prestar a faculdade para o curso de jornalismo. Mas eu não pretendo parar com as atividades no teatro e, se surgir uma boa oportunidade, vou aproveitá-la.”
“Eu também quero muito tentar uma vida lá fora, estudar em Nova York e tentar algumas audições. Lá, como as peças permanecem muito tempo em cartaz, nós temos mais segurança e previsibilidade. Então, eu penso que, quando abrir as audições para uma peça na Broadway, eu vou estudar muito para ser aprovada. Mas também penso em Londres e Austrália – explorar um pouco o que o exterior tem a oferecer.”
Rede de apoio
“Meus amigos estão sempre me incentivando. Inclusive, no ano retrasado, eu cantei na Semana Multilinguagem e, no ano passado, ganhei o prêmio de melhor atriz no concurso de videoclipes (Progetto Italia: Cuore e Voce). Foram oportunidades para que todos os meus amigos me vissem atuando e me apoiassem ainda mais. A partir daí, eu ganhei uma visibilidade maior. Os professores, quando ficam sabendo de alguma peça, querem me assistir também. A professora Valdenice (M. M. de Cerqueira, diretora institucional e de tecnologia do Dante), por exemplo, está sempre assistindo minhas peças, desde a ‘Escola do Rock, O Musical’. Todos sabem que eu sou a Erin que faz arte (risos), que faz teatro e que canta. É muito legal e importante receber esse incentivo dos colegas.”
