Refugiado vem ao Dante e fala de empreendedorismo

Publicado em 18 de novembro de 2015 às 16:50
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Alunos do Dante High School receberam, em 28 de outubro, o engenheiro mecânico Talal Al-tinawi e sua família para uma conversa sobre empreendedorismo. Talal e sua família são refugiados da Síria, país que passa por um conflito que já dura quase cinco anos. Até agora, os combates contabilizaram pelo menos 220 mil mortes de acordo com a ONU (porém, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, o número passa de 330 mil), levaram mais de 4 milhões de pessoas à condição de refúgio e deixaram mais de 6,5 milhões de desalojados.

No Brasil desde dezembro de 2013, Talal, que compareceu com sua esposa e seus três filhos – uma delas com 9 meses de vida, a primeira brasileira da família – contou um pouco de sua história e do que tem feito atualmente para viver no país, tendo em vista o fato de ainda não ter conseguido validar o diploma obtido em sua terra natal. “Não consegui validar por precisar de tempo para estudar e passar em um teste, mas não tenho tido tempo, pois preciso priorizar o dinheiro para cuidar da família”, explicou. Cozinheiro nato, o sírio viu na culinária árabe, paixão de muitos brasileiros, um meio de obter renda.

De início, ele contou que, apesar das consequências que seu país sofre devido ao conflito, outro elemento que o motivou a sair da Síria com sua família foi o fato de o governo local tê-lo prendido por mais de três meses por engano. “Passei todo esse tempo na prisão, mas o governo estava atrás de outra pessoa com o mesmo nome. Depois de ser solto, um amigo me disse que era melhor sair da Síria, pois as autoridades acabariam fazendo a mesma coisa novamente”, disse.

Tomada a decisão, a família passou dez meses em Beirute, capital do Líbano, até realizar a mudança para o Brasil. Talal definiu que, antes da guerra, a vida na Síria era bastante tranquila. Aproveitando o gancho para falar do conflito e da violência, ele fez questão de ressaltar que, apesar do que muitas vezes se veicula preconceituosamente, inclusive pela própria imprensa, o Islã não tem diretrizes violentas. “As pessoas acham que Islã gosta de sangue, mas o Islã não é assim. De acordo com o Alcorão [livro sagrados dos muçulmanos], matar uma pessoa equivale a matar todo o mundo”, explicou.

Já em São Paulo, a família passou a receber suporte de integrantes da Mesquita do Brás, coordenada pela Associação Religiosa Beneficente Islâmica do Brasil, e do Adus, instituto que atende e auxilia os refugiados que vêm ao Brasil, principalmente à capital paulista.

Decidido a trabalhar com culinária – sugestão de um amigo brasileiro –, Talal começou a receber apoio para criar o seu próprio negócio. Começou com uma página no Facebook, a ‘Talal Comida Síria’, que atualmente tem 7 mil seguidores. Por lá, as pessoas podem conhecer os produtos comercializados por Talal e realizar encomendas. Em seguida, voluntários criaram uma campanha de financiamento coletivo (crowdfunding) para que Talal pudesse arrecadar fundos suficientes para a construção de um restaurante com toda a aparelhagem necessária. A meta de arrecadação – R$ 60 mil – foi atingida perto do fim dos dois meses em que a campanha ficou no ar.

Talal tem sido uma das vozes mais recorrentes na imprensa quando o assunto é refúgio. Por esse motivo, ele tem tomado a dianteira das ações destinadas a ajudar outros refugiados por meio de doações. “Um jornal publicou, recentemente, um pedido de ajuda aos sírios que têm chegado ao Brasil. Em três dias, recebi quase 2,5 mil mensagens no WhatsApp e Facebook. Recebemos muitas doações de leite e fralda [itens essenciais para grande parte das famílias], além de dinheiro, para repassar a outras famílias. Muitos aqui querem e gostam de ajudar. Em dez dias, a nossa casa ficou tão cheia que eu não tinha mais espaço para dormir,” relatou.

Sobre a vida no Brasil, Talal contou que, assim que possível, tentará validar o seu diploma em engenharia mecânica, profissão que quer voltar a exercer. Ele também deixou claro que, com as raízes já estabelecidas no país, a ideia não é retornar à Síria. “Não quero voltar para lá, pois já temos uma vida no Brasil. Meus filhos estão estudando em português, e seria muito difícil voltarem a estudar na Síria [mais pelo sistema de ensino, e não pela língua árabe, que eles ainda praticam em casa]. Voltarei ao país apenas para visitas”, disse.

“O nosso plano é ter uma boa vida. Pretendo seguir com o restaurante e trabalhar como engenheiro, que é a área em que passei cinco anos estudando”, acrescentando que, em sua terra natal, ele tinha um escritório de engenharia. Já sobre as dificuldades, Talal afirmou que sente saudade de outros membros da família e disse não estar totalmente habituado à língua portuguesa (apesar de sua pronúncia ser perfeitamente compreensível) e à cultura brasileira.

Na sequência, Riad, filho de Talal, também falou, resumidamente, de sua vida no país. Aos 15 anos, ele nitidamente aprendeu bastante sobre a língua portuguesa, um dos motivos pelos quais é grato pelo apoio que tem recebido de seus colegas na escola. “A mudança foi muito difícil, pois é uma língua diferente, mas os meus amigos me ajudaram muito, e os professores também”, disse. “Agora tudo é mais fácil para nós, porque já acostumamos com tudo. Fomos muito bem recebidos.”

Durante a conversa, os alunos da High School puderam fazer perguntas à família, e a resposta mais entusiasmada veio de Riad, na parte final do encontro, quando se falava sobre a culinária no Brasil. Perguntado se já havia experimentado brigadeiro, ele foi enfático: “Brigadeiro é a melhor coisa que já vi no Brasil!”

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