Entrevista: professor do Dante traça panorama sobre a física no Brasil e no mundo e oferece dicas a alunos

Publicado em 19 de maio de 2022 às 17:05
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O que faz um físico? Quais são os principais segmentos de atuação? Por que a física ainda é temida entre muitos alunos? Qual é o diferencial do Dante no ensino desta disciplina? Em uma entrevista concedida especialmente para o Dia do Físico, comemorado em 19 de maio, o professor Manoel Resende, coordenador do Departamento de Física, responde essas e outras perguntas, além de oferecer conselhos para quem sonha em trabalhar nessa área do conhecimento científico. Confira!

Dante: O que faz um físico e quais são as áreas de atuação para esse profissional?

Manoel Resende: O campo de atuação do físico é muito amplo. Todo ano temos contato de ex-alunos que se formaram em física atuando em áreas de energia e materiais, na área de física nuclear, que cresce bastante, e na área de computação quântica, que vem evoluindo ano após ano em razão da necessidade de conseguirmos armazenamento e manipulação de dados em uma velocidade muito grande. E, acredite, existem também físicos trabalhando no mercado financeiro, inclusive.

Alguns pesquisadores do Instituto de Física da USP, por exemplo, ficaram responsáveis pela restauração do Museu do Ipiranga. Uma coisa legal sobre o quadro que marca a Independência do Brasil [Independência ou Morte, de Pedro Américo] é que a estrutura da restauração foi monitorada por físicos. Então, faz parte da área de atuação do físico conseguir saber qual material foi utilizado.

Outra área de pesquisa também é a geração de energia elétrica, que é um assunto muito discutido no mundo. O uso de fontes renováveis tem que ser uma alternativa para os países, para que todos cumpram os protocolos de emissão de gases de efeito estufa. A geração de energia elétrica passa por muita pesquisa, e o físico normalmente é a pessoa que encabeça esse estudo.

Dante: Como é o trabalho de um físico no mercado financeiro?

Manoel Resende: O comportamento da bolsa e do mercado financeiro não é muito previsível, porque depende das ações políticas do dia. Então, se porventura estourar alguma coisa hoje, o mercado financeiro acaba tendo um comportamento inesperado. Mas existe uma área da física chamada econofísica, que trabalha com alguma previsão de dados do mercado financeiro. É uma modelagem para tentar entender um pouco de como esse mercado pode se comportar, tentar fazer algumas previsões, entender um pouco se existe um padrão e como esse padrão poderia ajudar pessoas que trabalham com o mercado financeiro.

Professor Manoel explica projeto a ser realizado em Foz do Iguaçu
O professor Manoel Aquino Resende Neto, coordenador do Departamento de Física, explica projeto interdisciplinar

Dante: Quais são os atuais desafios da física?

Manoel Resende: Um dos principais desafios, principalmente no Brasil, é a falta de incentivo à pesquisa por parte do governo. Há pouco tempo foi inaugurado na Unicamp o Sirius, que é um grande acelerador de partículas com um potencial gigantesco de pesquisa, mas de nada adianta termos tudo isso se não tivermos pessoas para fazerem pesquisas. Então existe, além da falta de estímulo do governo, a falta de incentivo de bolsa, de modo que pessoas que queiram estudar e pesquisar tenham a disponibilidade financeira para se dedicar à pesquisa, e o Brasil carece muito disso.

Mundo afora, principalmente em países desenvolvidos, a física está voando, inclusive com investimento privado, o que infelizmente não acontece no Brasil. A tentativa de mudança de frota de carros para, por exemplo, carros elétricos passa muito por diversas áreas de física, desde a construção das baterias até o desempenho do carro. O engenheiro trabalha diretamente nesta área, mas ele não compete com a vaga do físico, que pode desenvolver material para isso. Tem vaga para os dois na empresa. É um mercado que está crescendo bastante, e várias montadoras estão investindo pesado nisso.

Dante: Por que a física é uma disciplina temida por muitos alunos? Quais são as ações do Dante para superar esse estigma?

Manoel Resende: Realmente existe um estigma. As pessoas têm um preconceito de que vão lidar com algo que é impossível aprender. De fato, não é um estudo fácil, porque a física, além da linguagem própria da ciência, usa como base a linguagem matemática, que é a nossa principal ferramenta para o desenvolvimento de tudo. São duas coisas que precisam conversar muito bem, para que a física se desenvolva. Se porventura a pessoa tem dificuldade em uma ou em outra, ela trava. E aí temos que bolar estratégias para melhorar e atingir o sucesso.

Aqui na escola trabalhamos justamente com a tentativa de trazer não aquela física que se acredita que é utópica, mas aquela que traz a vida do cotidiano. Acreditamos que, se o aluno conseguir perceber que aquilo faz parte da vida dele e, ao entender aquilo, conseguir melhorar a qualidade de vida dele e das pessoas à sua volta, nós imaginamos que esse estigma vai ser cada vez menor, de modo que a física se torne mais uma ferramenta que ele consiga trazer para o seu repertório.

Dante: Que recado você daria para o aluno que está pensando em prestar vestibular e estudar física?

Manoel Resende: Se o aluno está pensando em prestar física, ele é apaixonado por física como eu. Então, com certeza, eu falaria para ele ir em frente. Se ele estiver em dúvida, é sinal que o “mosquitinho” da física o picou e ele tem que ir atrás disso, porque hoje o mundo carece de físicos, principalmente o Brasil. Existe um déficit de físicos no Brasil. Isso foi identificado pela quantidade de formandos e vagas disponíveis. É um mercado a ser explorado, que tem uma necessidade de profissionais qualificados e muita vaga para atuação.

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