Documentário dirigido por dantiana é premiado em prestigioso festival de cinema na Itália

Publicado em 15 de dezembro de 2023 às 9:47
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No dia 24 de novembro, a antiga cidade de Agrigento, na Sicília, Itália, foi palco da 43ª edição do Paladino d’Oro Sport Film Festival: Premio Cinematografico Internazionale, evento que contou com a participação de 150 filmes, representando 40 países. Ali, mais precisamente no deslumbrante Teatro Pirandello, a diretora e produtora cinematográfica brasileira Beatriz Scavazzini, ex-aluna do Dante, fez história ao levar o documentário “Gaming Queens” à conquista do “Special Prize” na recém-criada categoria “Best Esport Film”, voltada a obras com a temática dos esportes eletrônicos. 

Idealizado pela Red Bull TV, “Gaming Queens” é um documentário que retrata a rotina da equipe feminina de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) da FURIA durante um período de treinamentos na Europa. Com uma produção majoritariamente desenvolvida por mulheres, o filme revela os desafios diários que as jogadoras enfrentam em sua preparação para o Campeonato Mundial realizado na cidade sueca de Jonkoping, em novembro de 2022. 

Beatriz Scavazzini dirigiu "Gaming Queens", filme premiado no festival de cinema Paladino d'Oro

Em pouco mais de meia hora, o documentário filmado na Dinamarca, na Suécia e no Brasil busca “desmistificar” a identidade gamer ao lançar holofotes sobre os sonhos, alegrias e frustrações das integrantes da FURIA, uma das maiores organizações de esportes eletrônicos no Brasil. “Esse foi o primeiro time feminino brasileiro a chegar a uma final de Mundial, então há uma relevância não só para a comunidade imensa de pessoas que jogam e curtem CS mas também para outras meninas que podem se inspirar de alguma forma no que as jogadoras fazem.”

Nesta entrevista, Beatriz se aprofunda nos propósitos de “Gaming Queens”, discorre sobre sua trajetória no jornalismo e no audiovisual e projeta novos desafios no mundo do cinema, além de ressaltar a influência que a escola onde se formou em 2003 teve sobre sua carreira já vitoriosa. “Tenho muitas memórias afetivas e de construção profissional. (…) É um lugar pelo qual tenho muito carinho e respeito, que fez toda a diferença na minha profissão.”

Colégio Dante Alighieri: O documentário narra a saga de uma equipe feminina de CS:GO, que, em uma constante busca por evolução, tenta o inédito título mundial da categoria. Quais foram os objetivos da produção e qual é a mensagem que a obra deixa para o público?

Beatriz Scavazzini: Nossa ideia sempre foi abrir um pouco o olhar para o universo de eSports (esportes eletrônicos), falar sobre o potencial dessas meninas e mulheres como atletas profissionais e sobre como elas vêm se desenvolvendo, além de tratar do legado que elas deixam para uma geração um pouco mais nova, que vem chegando e pode ter a oportunidade de estar onde quiser. Queríamos muito falar sobre o legado dessas atletas. Esse foi o primeiro time feminino brasileiro a chegar a uma final de um Mundial, então há uma relevância não só para a comunidade imensa de pessoas que jogam e curtem CS mas também para outras meninas que podem se inspirar de alguma forma no que as jogadoras fazem. 

CDA: De certa forma, o filme buscou enfatizar o protagonismo das mulheres no mundo dos games?

BS: A nossa preocupação era mostrar que elas podiam não só estar ali como jogadoras e atletas mas também estar em alto nível profissional. Toda a narrativa que foi construída com a Martina Sonksen, que é a roteirista do filme, procura não comparar o feminino com o masculino, e sim traçar um perfil de como acontece e um olhar de documentário observacional em que pudéssemos registrar os momentos de preparação justamente para fortalecer o imaginário do que é o gamer. Muitas vezes, associamos o gamer a um menino heterossexual e branco, mas queríamos mostrar que existe outra identidade gamer, que é a das meninas que jogam muito bem profissionalmente, que atingem um alto nível técnico e competitivo.

A ideia, então, era desmistificar um pouco o perfil do gamer, porque muitas vezes associamos o jogo a um momento em que a pessoa fica ali no quarto, sem uma convivência social. Neste caso, estamos falando de uma profissão, de atletas profissionais que se preparam para isso, que têm acompanhamento psicológico, treinamento, salários que se equiparam e extrapolam outras profissões. A proposta foi trazer um pouco o olhar para desmistificar algumas questões da identidade gamer de uma forma doce e cativante, contando uma história. 

Documentário "Gaming Queens" narra jornada de equipe feminina de Counter-Strike
Da esquerda para a direita: Olga Rodrigues, Airini Bruna (psicóloga), Mariana Prestes, Gabriela Maldonado, Karina Takahashi, Lucas Mancini (técnico) e Izabella Galle

CDA: O que o prêmio representa para você e para a produção audiovisual brasileira?

BS: O Paladino d’Oro é um festival que acontece há 43 anos, é um dos festivais de cinema mais antigos da Itália. É dedicado a filmes de esportes em geral, que é muito pioneiro por ter uma categoria voltada a esportes eletrônicos. Para nós foi muito importante e significativo poder extrapolar o universo nichado do esporte eletrônico. Eu, pessoalmente, acredito que esse universo seja muito maior e mais abrangente do que só um nicho, uma categoria, então ter um festival de cinema tradicional reconhecendo a nossa produção audiovisual brasileira é muito legal porque podemos levar narrativas segundo o nosso olhar. A equipe foi majoritariamente feminina – por trás das câmeras também –, então pudemos levar um olhar sobre construção de narrativa. Levar a narrativa brasileira, com nosso olhar feminino, para um festival na Itália foi muito significativo. 

Como eu tenho a dupla nacionalidade italiana, foi muito especial estar lá mesmo. A cerimônia de premiação aconteceu no Teatro Luigi Pirandello, que é um teatro belíssimo, e foi incrível ter o filme exibido lá. Havia vários alunos e estudantes ali, então foi muito especial mesmo. 

CDA: Você poderia contar um pouco sobre sua trajetória profissional no jornalismo e na produção audiovisual? Como você foi parar na direção de um documentário do universo de eSports? 

BS: Eu me formei em jornalismo e trabalhei na comunicação do Dante com o Fernando [Homem de Montes, gerente do Departamento de Marketing e Relações Institucionais] e com o Adriano [Carlo de Luca, supervisor do Departamento de Marketing] no início da faculdade. Fui estagiária e depois entendi que queria partir para imagens e movimento. Fui para Madri, onde fiz mestrado em produção de televisão e cinema. Quando voltei, eu entrei nesse universo do esporte eletrônico, comecei a trabalhar para um canal, em que dirigia um programa que era para o Brasil e para a América Latina, de um patrocinador de eSports. Muitas vezes me perguntam se eu caí de paraquedas nesse universo gamer, e eu digo que sim. Desde então venho trabalhando como diretora de conteúdo e diretora artística para diversos canais e empresas. Trabalhei por quatro anos para a ESL, que é uma grande empresa organizadora de campeonatos que reúnem milhares de pessoas em estádios assistindo a videogamers, e há alguns anos eu venho desenvolvendo conteúdo e trabalhando com narrativas de novas identidades gamers – fiz um documentário para o Google e outro para uma desenvolvedora de jogos. 

Teatro Pirandello foi palco do festival em que o filme "Gaming Queens" foi premiado
Cerimônia de premiação da 43ª edição do Paladino d’Oro ocorreu no Teatro Pirandello, em Agrigento, na Sicília

CDA: Seus documentários contam histórias sobre profissionais de jogos eletrônicos. Você joga videogame?

BS: Não jogo (risos), mas eu me apaixonei de verdade por essas histórias todas. A minha pesquisa é voltada ao que faz com que os esportes eletrônicos e videogames sejam tão transformadores, olhando para o que existe ali de tão potente. Então eu acho que as relações que acontecem dentro do jogo extrapolam e vêm para o mundo físico de uma forma muito rica e afetuosa. São novas relações que se estabelecem, então tenho ido por esse caminho de pesquisa. 

O Brasil é cada vez mais uma potência de desenvolvedores de jogos e vem se destacando com muitas premiações na construção de narrativas dentro dos jogos, e essa construção de narrativas é muito importante a partir do momento em que ela é alinhada com o que acreditamos, com um olhar feminino, um olhar de mais igualdade. Agora sou embaixadora de uma iniciativa chamada Women in Games, que é sobre igualdade, para termos mais mulheres nas produções, por exemplo.

CDA: Você está trabalhando em outros projetos atualmente? Planeja seguir produzindo documentários ligados aos esportes eletrônicos?

BS: Sim, eu gosto muito mesmo dessa área. Tenho pesquisado cada vez mais e desenvolvido dois projetos que estão em fase de pesquisa ainda. Um é sobre uma das personagens de “Gaming Queens”, que é a Olga [Rodrigues, jogadora], a primeira atleta gamer transgênero, e o outro sobre novas identidades, ou seja, como a escolha dos avatares influencia as novas relações sociais. Agora vou dirigir uma série para o canal Gloob, em janeiro, um programa infantil que não é de esporte eletrônico, mas há uma certa relação, é ligado ao futebol. Pretendo continuar trabalhando em documentários e histórias. Venho recebendo convites para outras áreas e fico muito feliz, mas os games realmente me deram uma oportunidade de conquistar alguns sonhos, então continuo muito neles, mas há coisas por vir aí. 

CDA: Quais são suas lembranças do Dante? De alguma forma, o Colégio influenciou em sua formação pessoal e profissional? 

BS: Eu gostei muito de ter estudado no Dante, principalmente pelas amizades e relações que eu fiz. Temos um grupo de amigos que ainda convive muito, formado com outras pessoas que trabalham no audiovisual em alto nível. Fizemos um curso de teatro no Dante. Além de jornalismo, eu me formei em artes cênicas, e eu tive um professor de teatro no Dante que foi muito significativo, chamado Daniel Warren [ex-apresentador do programa Art Attack]. Ele abriu olhares para espaços e novas perspectivas, então acho que foi fundamental para a minha formação. 

Poder falar sobre narrativas e sobre cinema é algo que se deve a esse curso extracurricular de teatro, que foi um divisor de águas. Agradeço toda a minha carreira a isso. Não estaria aqui, não estaríamos conversando sobre meu filme, se eu não tivesse vivido essa etapa no Dante. Isso é algo em que acredito muito. Tenho muitas memórias afetivas e de construção profissional: do teatro à comunicação está tudo muito ligado. É um lugar pelo qual tenho muito carinho e respeito, porque realmente entendo que esse curso extracurricular, por exemplo, fez toda a diferença na minha profissão.

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