Alunos iniciam debate sobre cotas e ações afirmativas

Publicado em 28 de abril de 2013 às 13:48
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Os alunos da 3ª série do Ensino Médio do Colégio Dante Alighieri deram início a uma nova atividade interdisciplinar, destinada desta vez a discutir o ingresso de estudantes em universidades públicas. À diferença da forma pela qual o tema é comumente tratado, o debate se concentrará, porém, em soluções práticas para o ingresso de estudantes da escola pública no ensino superior, devendo, para tanto, se apoiar na proposta das denominadas cotas e ações afirmativas*.

O projeto, que durará três meses e envolverá conhecimentos e aulas de História, Sociologia, Filosofia, Geografia, Português e Inglês, teve largada com um encontro no dia 24 de abril no auditório Miro Noschese. Na ocasião, os alunos assistiram a dois filmes: o curta-metragem “Couro de Gato”, de 1962, e um trecho editado do documentário “Pro dia nascer feliz”, de 2007.

Ao término das exibições, os alunos ouviram comentários dos professores Edson Martins Júnior, de Sociologia, e Christian Tadeu Gilioti, de Filosofia, ocasião em que também puderam opinar sobre o tema. Essa discussão, na verdade, permeará todo o projeto, que, conduzido pelas disciplinas acima especificadas, servirá de estímulo para a reflexão e para a criatividade, recursos que o aluno deverá utilizar para a elaboração de textos argumentativos em português e inglês.

Couro de gato

O curta ‘Couro de gato’ apresenta a realidade de jovens de baixa renda que capturam felinos na época de Carnaval para vendê-los, já que a pele dos animais interessaria a fabricantes de instrumentos percussivos, que requerem uma superfície resistente de contato, como o tamborim. Além de sacrificarem os felinos de rua, alguns adolescentes ainda se dedicam à captura de gatos de estimação que vivem em residências particulares. Em um desses casos, a própria dona de casa permitiu a entrada do jovem, ofereceu-lhe um suco e se dispôs a conversar, até perceber que o garoto lhe furtara o pequeno animal e fugira da casa.

Uma das estratégias do professor de sociologia Edson Martins Júnior para introduzir o assunto principal do projeto foi questionar quem seria o culpado pelo furto. “Em um pensamento sobre a propriedade particular, as pessoas culpariam o garoto. Mas, para a comunidade daquele garoto, ele não tem culpa e pode até ser premiado por sua família pela captura, além do lucro direto que ele teve ao receber dinheiro pela venda do animal”, explicou, orientando depois a discussão para o campo dos direitos educacionais entendidos como um bem público.

“Mas, e quando a propriedade é pública, como discutimos os direitos? A República pressupõe um Estado de todos, não em termos de economia e propriedade, como o socialismo, e sim em direitos. O que temos a ver, portanto, com o fato de escolas públicas colocarem apenas uma minoria de alunos em universidades públicas? De modo particular, nada. Mas entender a discussão das cotas e ações afirmativas vai além do pessoal. A cada ano letivo por que alguns alunos de instituições precárias passam eles recebem do Estado a mensagem de que têm condições de seguir em frente. Chegando na universidade, a instituição diz que não, ali não é o lugar deles, pois esses alunos não sabem nem escrever. O que podemos fazer, então, enquanto sociedade civil?”, questionou o professor.

Pro dia nascer feliz

O documentário “Pro dia nascer feliz” demonstra a realidade de três escolas públicas brasileiras mantidas em condições reprováveis e a de uma grande escola particular de São Paulo. No decorrer da película, nota-se a disparidade dos tipos de problemas que os alunos das instituições enfrentam e expõem. No caso das instituições públicas, o problema vai da falta de interesse (e desrespeito) dos alunos ao excesso de aulas vagas, da carência de infraestrutura à dificuldade de transporte que os estudantes enfrentam para chegar às escolas.

Na oportunidade, os alunos do Dante assistiram a um trecho sobre os estudantes de Manari, cidade no interior de Pernambuco, e à sequência sobre a Escola Estadual Parque Piratininga II, situada em Itaquaquecetuba, município localizado na região metropolitana da capital paulista.

O professor de Filosofia Christian Tadeu Gilioti questionou, a princípio, o problema da generalização dos estudantes de escolas públicas. “Em geral, os alunos destas escolas são tratados simplesmente como pessoas que não sabem ler. Contrapondo essa visão generalista, a personagem principal de Manari, poetisa que também lê obras de autores clássicos, deu a impressão de que, se tivesse a oportunidade de seguir a carreira pretendida, em Relações Internacionais, seria uma boa diplomata, talvez inspirada em Vinícius de Moraes, poeta que atuou nessa área e de quem ela tanto gosta”, explicou.

Para ele, há uma grande resistência na discussão de temas que contemplam a sociedade como um todo. “Para muitos de nós, é difícil prestar a atenção nos outros, de outras classes sociais, de outros estados. Nós não imaginamos a complexidade de cada indivíduo e não entendemos que este é um problema social coletivo. Este tema carece de uma reflexão séria. Precisamos tentar entender de verdade quem são as pessoas, mas não da forma como [são vistas] no vestibular, no qual elas, assim como vocês, serão apenas números. Isso pode parecer bobagem, mas pode definir, e geralmente define, o destino de muita gente. Por isso, discutiremos este tema nos próximos meses para que vocês desenvolvam uma opinião autônoma e com bom embasamento”, concluiu.

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*As denominações “cotas” e “ações afirmativas” possuem sentidos diferentes, apesar de serem usualmente utilizadas como sinônimos no Brasil. A primeira pressupõe a garantia de que pessoas de certo grupo (a depender da etnia, classe social e nível de instrução recebida) terão assegurada uma parcela das vagas em instituições públicas. A segunda preconiza o direito de todos ao ingresso e ao aproveitamento dos estudos em instituições de ensino superior, operando com medidas compensatórias que relativizariam a desvantagem de alunos de escola pública em face do privilégio dos egressos de instituições particulares. Tal ponto de vista institui assim uma posição que excederia a defesa exclusiva da isonomia na busca por uma vaga na universidade pública.

Conclui-se portanto que, enquanto a cota (o termo, aliás, é também utilizado de modo pejorativo em condenação à prática) pode ser considerada uma ação afirmativa, ações afirmativas fazem parte de um rol muito maior de atitudes. A isenção de taxas de inscrição no vestibular, por exemplo, é uma delas, e cursos extras relacionados a temas do ensino básico oferecidos no decorrer dos estudos no ensino superior é outra.

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