Dante realiza fórum sobre inovação na educação

Publicado em 20 de outubro de 2014 às 18:32
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O Colégio Dante Alighieri realizou, em 7 de outubro, o fórum “Inovação na educação: integrando saberes”, evento destinado ao compartilhamento de experiências no campo da educação com foco na inserção de novas ferramentas tecnológicas. O encontro, ocorrido no auditório Miro Noschese e transmitido pela internet em tempo real, integrou a programação do Dante Digital, ampla mostra de projetos e oficinas tecnológicas que, organizada em 18 de outubro também no Colégio, compõe o calendário da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.

Mediado pela coordenadora do Departamento de Tecnologia Educacional, professora Valdenice Minatel, o fórum recebeu cinco convidados: os professores especialistas Adolfo Tanzi Neto e Lilian Bacich, que atuam como consultores em um grupo de experimentação em ensino híbrido (que alia o ensino convencional ao uso de novas tecnologias), o CEO e fundador da startup educacional QMágico, Thiago Feijão, o jornalista Caio Dib, que viajou pelo Brasil em busca de experiências criativas em educação, e o aluno da 3ª série do Ensino Médio Ayrton Corazza, que relatou suas experiências como integrante do comitê gestor discente do Colégio.

Todos proferiram comentários durante a abertura do evento, para, depois, responderem às perguntas do público. Apesar da grande atenção ali conferida à tecnologia, todos os palestrantes lembraram que essas ferramentas não devem ser vislumbradas como a solução dos problemas na educação, e sim como um aparato que deve potencializá-la.

A professora Lilian, por exemplo, ressaltou a necessidade de o atual apelo às tecnologias não se transformar em um ímpeto de desprezo aos outros métodos de ensino. “Vivemos um período de mudanças, e precisamos entender como construir o conhecimento, atualmente, de modo eficiente. Quando se fala em inovação, a solução não é jogar fora o que existe no campo tradicional. A proposta deve ser aproveitar o melhor dos dois mundos”, afirmou, parafraseando o professor estadunidense Michael Horn, especialista no campo do ensino híbrido.

Ela também mencionou o Grupo para Experimentações em Modelos Híbridos, criado pela Fundação Lemann e pelo Instituto Península, e no qual ela e o professor Adolfo atuam como consultores. A proposta do projeto, em sua primeira fase, é exatamente descobrir experiências bem-sucedidas aliando o melhor de cada método de ensino. Dele fazem parte 16 professores, de escolas públicas e particulares, de quatro estados. A professora do Dante Verônica Cannatá integra o projeto (mais informações a respeito do tema nesta matéria).

Também comentando procedimentos eficientes de difusão de conhecimento e de aprendizado, o professor Adolfo fez um resgate histórico falando das ágoras, ambientes públicos na Grécia antiga nos quais os cidadãos comuns se reuniam, em assembleia, para discorrer sobre diversos assuntos, entre os quais aqueles que envolviam justiça, moral e ética. Adolfo lembrou, no entanto, que o fato de a internet permitir a difusão facilitada de informações não deve levar os educadores diretamente à ideia de que ela é, sem qualquer preparo prévio, a melhor opção para a educação.

“Deve haver bastante cuidado em debates sobre o uso da tecnologia na educação. Quando um grupo se propõe a trabalhar com inovação, a resposta certamente não será simplesmente inserir um modelo AVA [Ambiente Virtual de Aprendizagem] na metodologia tradicional de ensino. Essa é a falácia da colaboratividade”, disse o professor, fazendo menção à falsa proposição de que o uso de plataformas virtuais de ensino garantirá, por si só, uma produção colaborativa notória. “Quando pensamos em inovação, devemos entender como as atividades se dão em diversos âmbitos, tais como a internet e as mídias sociais, e como aplicá-las na educação. É a partir disso que podemos falar em aprimorar a educação com a tecnologia.”

Thiago, por sua vez, comentou que a inovação não precisa ser entendida especificamente como a solução criada do zero, já que é perfeitamente possível aprimorar respostas dadas anteriormente. “O primeiro passo é querer contribuir oferecendo uma alternativa útil e acessível ao mundo real. Pensando nisso, podemos transformar essas respostas em soluções melhores ainda”, disse, lembrando que é comum a ideia romântica de que a tecnologia irá, isoladamente, revolucionar a educação.

“Muitos acharam que essas novidades tecnológicas iam resolver tudo, e não é bem assim. Independentemente da ferramenta, deve-se pensar em como aplicá-la em sala de aula”, afirmou. A professora Valdenice reforçou o comentário de Thiago. “Não é a tecnologia que vai salvar a educação, e não se pode usá-la meramente por modismo. É necessário romper essa ideia e pensar na tecnologia como uma ferramenta que pode potencializar, mas não salvar, o ensino”, afirmou.

O jornalista Caio se lembrou de um elemento muito importante para que os educadores consigam entender as diversas realidades e trabalhar com base nessa perspectiva: a capacidade de distanciamento. Enquanto viajava pelo país em busca de exemplos positivos na educação, ele encontrou uma professora que atua, há bastante tempo, em uma pequena cidade do oeste baiano. Ao ouvir os relatos dos problemas dela, ele entendeu que, diante da realidade da professora, dificilmente caberiam as respostas-padrão que o jornalista já tinha em mente graças a suas experiências anteriores com educação.

“É importante conhecer o aluno, o professor, a infraestrutura, tudo. Só depois eu me toquei que grande parte das soluções que conheci trabalhando cinco, seis anos com tecnologia de ponta não seriam necessariamente aplicáveis em escolas que nem saneamento básico têm. E foi aí que comecei a entender que não encontrarei, nessas escolas, exemplos semelhantes àqueles que eu me acostumei a ver”, afirmou Caio. “Passei a ver que aquelas pessoas não entenderiam o que eu costumava falar, quando abordava temas como a educação democrática e a pedagogia da alternância. Quantos outros professores nessas mesmas condições não existem por aí? Notei, então, que inovação não é necessariamente inserir metodologias ou tecnologia de ponta em todos os lugares, e sim recorrer às soluções que fazem sentido em cada realidade.”

O aluno Ayrton, por sua vez, comentou a importância de os alunos terem a oportunidade de trabalhar autonomamente. Como exemplo, ele falou da solução que ele e outra colega do comitê gestor discente, Carolina Rubini, encontraram para dar continuidade ao uso didático dos tablets atualmente em posse dos alunos da 3ª série do Ensino Médio, que, por sinal, logo deixarão de ser usados por eles.

“Não sabíamos qual seria o destino desses tablets, que deixarão de ser usados em breve, e pensamos que doá-los a instituições educacionais carentes poderia ser uma solução. Mas não só doá-los, como também levar a experiência do Colégio, nesse assunto, a essas instituições. Com isso, iniciamos o projeto AjuDante”, explicou. Essa ação levará, assim, com a tutela dos próprios alunos do comitê, aproximadamente 240 tablets à ONG Acorde e ao Quintal da Criança, a que se agregará o próprio conhecimento obtido pelo comitê nos últimos anos na gestão dos recursos neles disponíveis.

Ele também falou dos ganhos observados em ações promovidas por professores que atuam como agentes incentivadores da inovação. “Os alunos precisam ter interesse, mas eles também se espelham no professor. Se ele promove um trabalho de campo, seremos incentivados a fazer outros trabalhos assim. Se ficamos sentados em fileiras, durante horas, com professores apenas falando, dificilmente pensaremos em buscar inovação. Acima de tudo, todos devem estar dispostos a receber feedback para seguir em frente”. E acrescentou: “Não só o aluno tem muito a aprender, mas o professor também, principalmente quando se fala em tecnologia. Sei bastante sobre tecnologia, mas também vejo que um aluno apenas um ano mais novo que eu tende a saber muito mais.”

A propósito da abertura para se ouvirem os alunos, passo essencial, segundo Caio Dib, para o entendimento de realidades diversas, os debatedores reconheceram a falta de um maior esforço nesse sentido. Para o jornalista, é necessário haver um incremento do diálogo. “Quando falamos em inovação, precisamos pensar em todos, mas ninguém do mercado sai do escritório para conversar com os alunos e entender o lado deles. Os professores também precisam ouvi-los e oferecer caminhos, em vez de simplesmente aplicar um currículo gigante em uma turma de 50 alunos”, disse Caio. A professora Valdenice concordou. “O comitê gestor discente tem justamente o propósito de dar voz aos alunos, que analisam o impacto das ações e oferecem soluções. Infelizmente, nem sempre as escolas e o mercado se dispõem a ouvi-los”, afirmou.

Mas, e quanto ao papel do professor nesse período de grandes mudanças? Para Thiago, o educador não deixará de ser essencial para o ensino. “O papel do professor sempre será importante, qualquer que seja a mudança. O que muda, com a inovação, é o patamar de cada um no modelo que temos de professor e aluno, aquele que ensina e aquele que aprende. Agora, os dois viram aprendizes, e o professor passa a ser um mediador. É a partir disso que se constrói um modelo pedagógico eficaz e totalmente diferente”, pontuou.

Aproveitando o gancho, Caio valeu-se de um exemplo bastante interessante para falar do protagonismo dos alunos e do novo papel do professor. Em referência a uma arrecadação financeira bem-sucedida, feita em colaboração com seus alunos, para um curso que ele estava oferecendo, Caio apontou que, apesar da óbvia importância em conseguir verba para prosseguir com o trabalho, o destaque ia justamente para o ensino e aprendizado que já estavam em jogo muito antes de a campanha começar. “O que importa foi o que trabalhamos com eles. Foram habilidades cognitivas, planejamento, marketing, discurso, trabalho em equipe, diálogo e aprendizado em conjunto”, destacou. “É fundamental que eles tenham liberdade para utilizar a internet para explorar e trazer ideias, porque, por mais que não adotemos tudo o que eles sugerem, o bloqueio à criatividade ocorreria justamente se eles dependessem da autorização dos professores para cada uma de suas ações.”

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