PROJETOS

Conservar a cultura e tudo o que ela contempla das comunidades originárias significa, em sua essência, a preservação do meio ambiente num contexto de emergências climáticas. Com o desenvolvimento da ciência moderna, estabeleceu-se uma cultura de produção de conhecimento pautada em protocolos de pesquisa desenvolvidos dentro de uma noção eurocêntrica. Ou seja, a produção do conhecimento (que é entendido como válido e está presente na educação), em sua origem, é excludente. Entraram em crise, então, os saberes tradicionais, junto com as populações em si. Apesar do estudo da etnociência (aquela que estuda conhecimentos e conceitos desenvolvidos de uma cultura sobre diferentes áreas, como traz o Embrapa) enriquecer inegavelmente as noções convencionais de manipulação e classificação de plantas. Sendo assim, qual a relação entre conhecimentos tradicionais, educação e emergências climáticas? Considerando que a educação pode ser uma grande aliada para a manutenção dos conhecimentos tradicionais vivos, o objetivo dessa pesquisa é elucidar a maneira com a qual a relação dos povos tradicionais com a natureza está sendo abordada nos documentos que orientam a educação básica brasileira. Para isso, realizou-se uma busca por palavras-chave acerca do tema em questão no documento da Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio. Os trechos que continham as palavras-chave foram analisados segundo a análise textual discursiva. Dentre os resultados, pode-se destacar a ausência das palavras “planta”, no contexto de ser vivo, “vegetal” e “botânica”. Isso pode indicar um descaso com o estudo da botânica e desvalorização das plantas. Além disso, ao final da análise da seção de ciências da natureza, ficou clara uma participação reduzida desta área no que diz respeito à inclusão das comunidades e povos tradicionais, considerando que apenas dois trechos foram retirados desta parte dos documentos, trechos estes que falavam, de fato, sobre uma valorização. Porém, em uma base nacional que é pautada nos desenvolvimentos de competências e habilidades, não trazer o modo como isso deve ser feito durante o ensino parece incompatível com a efetivação da exaltação da etnociência.