Gen Day recebe painéis sobre o “futuro” e palestra com Leandro Karnal

Publicado em 16 de novembro de 2017 às 16:41
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O Colégio Dante Alighieri realizou, em 11 de novembro, o Gen Day, que oficializou o lançamento da nova identidade da instituição e apresentou o seu slogan: Dante GEN – A geração que vai mudar o mundo. Para isso, a instituição de ensino decidiu realizar um grande evento, que abordou o tema “futuro” sob diversas óticas, em uma palestra com o professor e filósofo Leandro Karnal e em dois painéis, que contaram com profissionais convidados e professores do Dante.

Findada a abertura do evento, que contou com um pocket show de Mariana Nolasco, o público assistiu ao primeiro painel do dia, cujo tema foi “Divagações sobre o futuro”. Nesse momento, a youtuber Jout Jout, o escritor Gustavo Gitti, a orientadora educacional Claudia Meletti e a professora Jaqueline de Almeida (mediadora) discorreram não só sobre suas expectativas sobre o futuro como também sobre suas perspectivas sobre as mudanças políticas e sociais vividas nas últimas décadas e a importância das escolas nesse trajeto.

A primeira indagação da professora Jaqueline, que mediou o painel, foi sobre a percepção dos participantes a respeito das mudanças no ambiente escolar entre as décadas passadas e o dia de hoje. Jout Jout, que tem 26 anos, disse ter percebido um aumento na aceitação sobre a liberdade de expressão e a militância política dentro das instituições.

“Em minha época de escola, não existia debate algum sobre feminismo. O que tínhamos era uma aula de história, que durava uns 20 minutos, e que abordava qualquer coisa sobre as mulheres que deram uma lutada por algo… Não aprofundavam o tema. Eu e minhas amigas não ficávamos discutindo o feminismo ali. Hoje essa mesma escola tem coletivos feministas, que têm voz ali dentro. Essa geração está demais”, disse.

Gustavo, que é um pouco mais velho – tem 35 anos – disse ter notado uma “grande falência das estruturas que sustentavam o sonho coletivo e davam sentido à vida”, em termos de padrões impostos pela sociedade. “Na minha classe havia 40 alunos, e apenas um com pais separados: eu. Hoje, é comum termos salas com metade dos alunos com pais separados. Há uma falência em diversas estruturas, como o casamento, a família, a escola e a religião, e isso é algo excelente, pois é aí que começamos, por exemplo, a questionar o que é uma família”, explicou.

“E, com isso, as pessoas estão se juntando para dar sentido à vida. É uma transição boa, mas também difícil, pois estamos vivendo em um mundo muito mais interconectado. Vivíamos fechados em bolhas, algo que facilitava a estruturação de nossas vidas. Hoje está tudo mais escancarado e difícil.”

A orientadora educacional Claudia Meletti, que tem 53 anos, contou ter estudado nos tempos de governo militar, mas explicou ter tido uma formação escolar bastante marcada por processos de aprendizagem coletiva. Concordando com Gustavo, ela disse que uma das grandes diferenças entre o que viveu e o que vê acontecendo atualmente foi a saída de um “mundo de certezas para um lugar cheio de incertezas”.

“Parte de nosso trabalho é lidar com esse conflito entre gerações diferentes. Expectativas de pais, como eu, que tenho três filhos, que projetamos nossa vida profissional em uma única profissão, devem ser diferentes quando o assunto é essa nova geração. Precisamos trabalhar muito com essas pessoas para ajudá-las a se conhecer e saber o que esperam. A vida delas não será definida por uma graduação, por exemplo. Será um caminho muito mais longo, transitando em muito mais experiências profissionais, nem sempre tão formais”, explicou Claudia. “E para os pais isso não é necessariamente fácil de assimilar, pois tudo o que eles haviam entendido como real simplesmente não é mais algo inquestionável.”

O segundo painel, nomeado “Futuro da comunicação”, contou com a participação do publicitário Mário D’Andrea e da jornalista Natália Garcia, além da mediação do professor Felipe Trafani. Uma das indagações rendeu respostas bastante distintas.

Questionado sobre a comunicação como ferramenta de educação, Mário respondeu que, em termos de publicidade e propaganda, não se deve esperar tanto da área como ferramenta para educar a sociedade. “A publicidade é, simplesmente, um reflexo da sociedade à qual ela pertence. A propaganda não mostra a diversidade como deveria ser, por exemplo, pois a sociedade também não é como deveria ser. Não se pode esperar da publicidade o movimento de educar. A publicidade é que seguirá sendo educada pela sociedade”, disse.

Natália, por sua vez, narrou a história de vida de um jovem do Capão Redondo que tinha tudo para terminar em tragédia, mas que, recorrendo à comunicação social, seguiu um caminho absolutamente contrário. “Aquele garoto tinha a típica narrativa dos jovens do Capão. Quase morreu de overdose com 15 anos, passou por alguns internatos e viveu vários problemas sérios. Então uma professora de geografia, querendo ajudá-lo a recuperar a autoestima, convidou ele a criar uma rádio comunitária na escola. Ele fez isso e começou a entrevistar as pessoas de que mais gostava e notou o valor daquilo que fazia. Começou a perceber que o Capão era continuamente retratado como um lugar perigoso, violento, foco de muitas operações de tráfico de drogas – e isso é verdade –, mas ele também sabia que a região era muito mais do que isso, que o Capão também é espaço de muita gente talentosa e inovadora. Então a rádio foi ganhando mais visibilidade, virou canal no YouTube, com o nome de TV DOC. Virou um programa em audiovisual para outros jovens do Capão, ganhou prestígio e a equipe de lá chegou a entrevistar a Dilma Rousseff e vários vereadores de São Paulo. É uma história muito inspiradora para entender a comunicação como ferramenta de educação e transformação.”

O último compromisso do evento foi a palestra com o professor e filósofo Leandro Karnal. Entre tantas reflexões sobre o futuro, ele citou, no início do encontro, o falecido sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman para falar da liquidez da modernidade, que estaria vivendo mudanças cada vez mais rápidas, impactando diversos campos da sociedade, inclusive o da educação.

“As mudanças são tão rápidas que já não consigo determiná-las com muita clareza. Essa é a primeira vez na história que não sabemos o que ensinar à próxima geração. Antes, ensinavam valores, fórmulas e conceitos que seriam muito úteis à sociedade, e que supunham essenciais também para a geração seguinte. Mas essas coisas perderam a validade. Antes, havia um salto geracional de pessoas com 40 e 15 anos, por exemplo. Hoje, vai de 15 a 10 anos”, disse.

Um dos aspectos marcantes na sociedade atual, para ele, é o fato de haver uma “tríade” dominante em termos de valorização cultural e mercadológica: inteligência, iniciativa e criatividade. “Toda a minha formação foi voltada a disciplina, método e ordem. Víamos valor nessas regras. Hoje em dia, vemos que as pessoas mais ricas estão ligadas a patentes, ideias, e não a petróleo, por exemplo. Os mais ricos não são mais os industriais, latifundiários”, fazendo menção a casos bem-sucedidos de corporações como Google.

Karnal também ressaltou que, ainda mais em “tempos líquidos”, a humanidade precisa se preparar continuamente para as novidades, ainda que isso possa ser desafiador. “Não sei como será o futuro, mas tenho que me preparar para ele. O que sei é que, nos tempos de hoje, preciso aprender línguas, desenvolver habilidades e dinamismo, um corpo que responda às necessidades e, acima de tudo, a capacidade de me reciclar permanentemente”, disse.

E, apesar de apontar a necessidade de as pessoas se prepararem para o “novo”, ele também enfatizou a importância de o público não entender essa afirmação como um convite para descartar o “velho”. “Em cada coisa nova existe muito do antigo que foi aperfeiçoado. Precisamos abolir a ideia falsa de que tudo que é novo é bom, e que tudo que é velho é ruim. Não é verdade. Um colégio não é bom, por exemplo, só por ter tablets, e sim por ter propostas de transformação, que podem ser oferecidas por diversos meios. A inovação não vem por meio de máquinas, e sim de ideias”, apontou.

Posteriormente, o Dante publicará vídeos com trechos dos dois painéis realizados no Gen Day, “Divagações sobre o futuro” e “Futuro da comunicação”.

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