Dr. Jorge Kalil ministra palestra na Feira de Ciências

Publicado em 18 de novembro de 2014 às 16:57
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Entrevistado da quarta edição da revista InCiência [publicação de pré-iniciação científica e tecnológica do Colégio Dante Alighieri], o professor doutor Jorge Elias Kalil Filho proferiu uma palestra na abertura da 19ª Feira de Ciências e Tecnologia da Escola, realizada em 8 de novembro. No auditório Guglielmo Raul Falzoni, a pais, alunos e professores dantianos, o diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (InCor) e do Instituto Butantan falou sobre sua carreira e destacou a pesquisa que um de seus grupos realiza para desenvolver uma vacina contra o HIV (vírus causador da Aids).

A professora Silvana Leporace, diretora-geral pedagógica, deu as boas-vindas ao palestrante, ressaltando a parceria de Kalil com o Dante – com efeito, por meio do contato com a professora dantiana Carolina Lavini Ramos, sua ex-aluna, o médico abriu as portas de seu laboratório para que alunos do Colégio realizassem experimentos dos projetos de pesquisa desenvolvidos no programa Cientista Aprendiz.

Para retribuir os elogios feitos pela professora Silvana, o dr. Kalil, em sua fala inicial, destacou o trabalho de pré-iniciação científica feito no Dante. “Fico feliz de ver que o Colégio ensina seus alunos a pensar, o que se mostra por iniciativas como esta feira de ciências. O Dante ensina a pensar e a resolver problemas. E o Brasil precisa justamente disso”, afirmou, aproveitando para, desde início, deixar claro seu amor pela ciência. “Eu continuo apaixonado pela ciência e isso faz com que me sinta jovem. Sinto-me um garoto pelo entusiasmo com que faço meu trabalho. Por isso digo a vocês: escolham para trabalhar algo que vocês gostarão de fazer para o resto da vida”, disse o cientista de 60 anos.

Segundo Kalil, o trabalho científico realizado por jovens alunos pode ser uma maneira de desenvolver o país. “O Brasil tem pessoas muito criativas, mas, como sociedade, não aprendemos que podemos resolver problemas. Eu espero que vocês consigam reverter esse quadro. Precisamos crescer como sociedade. E crescer significa também fortalecer nossas instituições para que não dependamos apenas dos esforços hercúleos de alguns poucos professores e profissionais. Por exemplo: quem resolve os problemas de picadas das cobras que só existem no Brasil? Vamos ficar esperando os norte-americanos resolverem? Nós temos que resolver nossos próprios problemas”, apontou.

Carreira

Kalil também contou ao público como se desenvolveu sua carreira profissional. Nascido em Porto Alegre e filho de um médico, ele começou a se interessar por ciências nas feiras realizadas no colégio Anchieta, onde estudou até prestar vestibular para Medicina. “Eu tinha muitas dúvidas sobre o futuro profissional. Como meu pai e um tio eram médicos e eu achava interessante a Medicina, eu resolvi tentar. É muito importante descobrir aquilo que gostamos para sempre termos entusiasmo no trabalho”, disse.

Inquieto intelectualmente, Kalil também prestou vestibular para Física, conciliando essa faculdade com a de Medicina.  Entretanto, no terceiro ano, teve que trancar uma delas. “Larguei a faculdade de Física, mas, com ela, pude aprender muitas coisas, pois é um ramo que tem um grau de abstração maior e que aumenta nossa capacidade de dedução”, explicou. Nos tempos de universitário, ele ainda trabalhou com computação na faculdade antes de ir para o departamento de genética. “Em genética, passamos a estudar a hemofilia, uma doença que envolve déficit de coagulação do sangue e que só se manifesta em homens. As mulheres podem ser portadoras e transmitir a doença. Na época, conseguimos descobrir algumas coisas sobre a doença, publicamos e fomos reconhecidos. Então, vi que, com a ciência, eu poderia ajudar muita gente”, explicou.

A possibilidade de melhorar a vida de milhões de pessoas influiu na decisão de Kalil de ser pesquisador/cientista, indo, inclusive, contra a vontade do pai (que queria que o filho optasse pela área de clínica médica). “Pensei que eu ajudaria muita gente se descobrisse alguma coisa nova na área de saúde”. Ao falar nesse ponto, Kalil frisou uma característica imprescindível para o cientista. “Ciência é buscar a verdade. Portanto, honestidade intelectual é essencial”.

Dentro da Medicina, optou pela área da imunologia, pouco desenvolvida no Brasil no fim dos anos 1970 (época em que ele se formou médico). Após criar um grupo para estudar o tema na faculdade, Kalil foi ao Rio de Janeiro em 1978 participar de um curso de imunologia proferido por renomados professores da França.

“Os professores franceses deram uma aula de imunogenética e ninguém entendeu nada. Conversando com eles, eu disse que as pessoas não sabiam muito sobre genética. Eu, então, me propus a dar um curso básico de genética para os alunos. Dei esse curso em uma manhã e, depois, a aula dos franceses fluiu. Logo, eles me contrataram para trabalhar na França.”

Aos 24 anos, Kalil se casou às pressas e se mudou para a França. Após um começo difícil, em três anos, ele já era chefe de um laboratório – “o que consegui com muita dedicação e resolvendo problemas”, ressalta. Nessa época, ele teve a oportunidade de trabalhar com Jean Dausset, expoente da imunologia e ganhador do Prêmio Nobel de Medicina de 1980.

Vacina contra o HIV

Há cerca de 30 anos, Kalil retornou ao Brasil para cuidar da parte de transplantes do InCor. Hoje, ele é diretor do Laboratório de Imunologia do hospital e do Instituto Butantan. Nessas duas instituições, comanda diversos grupos de pesquisa. Um deles tem trabalhado no desenvolvimento de uma vacina para a dengue. Outro projeto de destaque é a vacina contra o HIV (vírus causador da Aids).

“Os testes [para a vacina contra a Aids] foram bem-sucedidos até agora em camundongos e macacos. Logo, vamos testar em humanos. Nem preciso dizer o quanto é importante criar vacinas para essas doenças (dengue e Aids). E posso garantir que também é divertido. Ao fazer esse trabalho, estamos exercendo o que há de mais nobre para o ser humano que é pensar. E é isso que quero fazer enquanto estiver com a cabeça boa”, concluiu.

Homenagem e premiação

Encerrada a explanação do dr. Kalil, a professora Sandra Tonidandel, coordenadora do Departamento de Ciências da Natureza e Biologia e do programa Cientista Aprendiz, agradeceu ao palestrante, às diretorias Executiva e Pedagógica do Dante, aos professores e aos pais e alunos.

“É ótimo ouvir tantas coisas boas como as que foram ditas pelo dr. Kalil nesta palestra. Na fala dele, identifiquei muitas características que vejo em vocês, como coragem, persistência, vontade de fazer algo bom para todos”, disse a professora, entregando, em seguida, algumas honrarias ao médico.

“O dr. Kalil abriu as portas de seu laboratório para os alunos do Dante realizarem pesquisas. E esses trabalhos conseguiram prêmios internacionais importantes”, afirmou Sandra Tonidandel, justificando o motivo pelo qual o prêmio entregue ao melhor trabalho apresentado no VI Simpósio do Cientista Aprendiz (realizado em 3 de novembro) recebeu o nome de Prêmio Inovação Jorge Kalil.

Na última parte do evento, Jorge Kalil entregou esse prêmio à Giulia Maria Ramella. O trabalho da aluna – “Busca por Novas Moléculas Envolvidas no Escape Tumoral: Modulação do FASL (CD95l) por Mediadores Lipídicos em Linfócitos Fase 1” –  foi eleito o melhor projeto do Cientista Aprendiz segundo avaliadores do Simpósio de Ciências.

A professora Sandra Tonidandel também anunciou, no evento, os projetos do Cientista Aprendiz que foram selecionados para serem publicados na próxima edição da revista InCiência e os credenciados para a MOP (Mostra Paulista de Ciências e Engenharia), feira de ciências a ser realizada em dezembro, e para a Febrace 2015 (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia).

Confira abaixo os trabalhos selecionados:

Projetos selecionados para a Revista InCiência:
“Rede Biossorvente: Filtro de Retenção de Metais Pesados com o uso de Casca de Banana”, (alunas Isabella Venna Lembo e Luiza Barreto Andrade). Orientadora: Sandra Tonidandel
”Cafenergizando Catasetum fimbriatum: Uso da Borra do Café como auxílio do Crescimento de Orquídeas”, (alunos André Navarro, João Victor Ramos e Felipe Camargo). Orientadora: Nilce de Angelo

Trabalhos credenciados para a FEBRACE 2015:
“Busca por Novas Moléculas Envolvidas no Escape Tumoral: Modulação do FASL (CD95l) por Mediadores Lipídicos em Linfócitos Fase 1”, (aluna Giulia Maria Ramella). Orientadora: Carolina Lavini Ramos

“TPM: Tempo Para Mudanças III”, (aluna Ana Carolina Paixão De Queiroz). Orientadora: Sandra Tonidandel

Trabalhos credenciados para a MOP (Mostra Paulista de Ciências e Engenharia):
“Busca por novas moléculas envolvidas no escape tumoral: modulação do FASDL (CD95l) por mediadores lipídicos em linfócitos – fase 1”, (aluna Giulia Maria Ramella). Orientadora: Carolina Lavini Ramos

“Função dos números primos”, (aluno Marcelo Soares Campos). Orientador: Diogo dos Santos

“Rede Biossorvente”, (alunas Luiza Andrade e Isabella Lembo). Orientadora: Sandra Tonidandel

“Aclimatação de orquídeas do gênero Catasetum”, (alunas Marina Anuardo e Carolina Rector). Orientadores: Nilce de Angelo e Fernando Campos de Domenico

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