Contando 2014 homenageia Milton Hatoum

Publicado em 11 de junho de 2014 às 16:26
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O Colégio Dante Alighieri realizou, na noite de 3 de junho, no auditório Miro Noschese, a edição anual do Contando, um concurso de contos e ilustrações de autoria dos próprios alunos, que, para produzi-los, se inspiram, a título de homenagem, na obra de um escritor nacional. Em 2014, o homenageado foi Milton Hatoum, autor amazonense de 61 anos que conquistou quatro prêmios Jabuti nas últimas décadas. O primeiro deles foi conquistado ainda em 1989, com seu romance de estreia “Relato de um certo Oriente”. O evento foi organizado pelos departamentos de Língua Portuguesa, Arte e Tecnologia Educacional.

Neste ano, os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, a quem se destina essa iniciativa do Colégio, produziram aproximadamente 180 textos baseados em três contos de Hatoum. Dessa produção, os 12 textos mais criativos, segundo indicação dos professores, foram compilados no livro comemorativo do evento. Para acompanhar cada um desses textos, foram escolhidas 12 ilustrações também feitas por alunos (resultado da atividade que, por afinidade, recebe o nome de “Ilustrando”). Os três contos de Milton que serviram de base para o trabalho dos estudantes foram “Dois tempos”, “Exílio” e “Um oriental na vastidão”.

Na abertura do evento, foi exibida uma videobiografia produzida por alunos da oficina Dante em Foco. Ela pode ser vista aqui:

A coordenadora do Departamento de Língua Portuguesa, professora Maria Cleire Cordeiro, enalteceu as habilidades de Milton. “Sua obra torna-nos leitores vorazes. São obras que fazem refletir o que é ser escritor, e que demonstram talento de sobra. Uma escola que preza por literatura não pode deixar de conhecê-lo por perto”, afirmou, destacando que as conquistas do Jabuti e o fato de suas obras serem vendidas em 14 países, e em 12 línguas diferentes, são prova da excelência da habilidade do escritor.

Sobre as ilustrações, a coordenadora do Departamento de Arte, professora Maria Beatriz Perotti, destacou características marcantes que os alunos constataram na leitura das obras para a produção dos desenhos. “Seus contos ganharam vida no ateliê por meio da criatividade dos alunos, que notaram grandes dramas universais, humanos, fortes, em seu trabalho. Como você [Milton] disse, em outra ocasião [em uma entrevista ao Estadão], os jovens revolucionários são aqueles que leem. E, por isso, a sua obra se abre para o nosso crescimento”, destacou a professora.

Ainda no auditório, as leituras e interpretações expressivas da obra de Milton e das versões dos alunos ficaram por conta dos alunos do 9º ano Lara del Bianco e Fernando Cezar Mendes. Já as apresentações musicais ficaram sob encargo da aluna da 1ª série do Ensino Médio Giuliana Maruca e do aluno da 2ª série do Ensino Médio Felipe Guazzelli.

Emocionado, Milton Hatoum agradeceu a homenagem e parabenizou todos os alunos que participaram da atividade. “Todos os participantes estão de parabéns, inclusive os que não foram selecionados, pois ganhar um prêmio às vezes não diz muita coisa. O mais importante da literatura é ter bons leitores, algo que todos vocês certamente o são”, disse.

A respeito do envolvimento de adolescentes com a literatura, Milton recordou passagens de sua infância em sua terra natal, Manaus. “Quando vejo jovens escrevendo com tanta paixão e afinco, eu me lembro de minha juventude. Estudei em colégio público, infelizmente não havia concurso de literatura, mas, assim como acontece aqui, tive bons professores, daqueles que nos orientam para o caminho certo”, afirmou. “Essa é, talvez, a parte decisiva da vida para a formação de um verdadeiro fã da literatura, ou, do outro lado, daquele que segue o caminho errado, que não se comove com o que lê e que dificilmente se tornará um grande leitor.”

Sobre a relação da literatura com a vida do escritor, Milton distingue um vínculo essencial entre uma e outra. “A nossa própria vida se envolve com a literatura, e nossas experiências são inseparáveis no momento em que produzimos algo”, afirmou.

O autor também destaca o papel da escola como um fator importante na formação do indivíduo, papel cuja valorização remaria contra a banalização da sociedade. “Não é só o Brasil que se tornou um país banal, com programas de televisão que nos fazem ter vontade de chorar. O mundo ficou assim. A minha juventude não foi assim. O meu avô, imigrante libanês, reunia as crianças para contar as histórias da vida dele”, disse. “O remédio para isso [a vulgarização da vida] é a literatura. Acho que a escola é cada vez mais fundamental, e só vamos sobreviver se a escola de qualidade triunfar.”

Ao término da homenagem, todos se dirigiram para o pátio do edifício Michelangelo, onde um coquetel os esperava. Ali, os autores dos contos escolhidos também receberam os convidados para uma sessão de autógrafos.

Como de costume, a versão digital do livro do Contando 2014 será disponibilizada na internet em breve. Para baixá-la, bastará entrar no hotsite do evento, que traz ainda o conteúdo das edições anteriores do Contando.

Confira, a seguir, a introdução dos três contos que serviram de ponto de partida para os jovens escritores e ilustradores:

Dois Tempos

Encontrei-a por acaso na noite de um sábado.

Queria fazer uma surpresa para tio Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo ficara sem vê-lo. A porta da casa dele, trancada. Imaginei que estivesse viajando e me hospedei numa pensão perto do teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio e, enquanto comia, me lembrei da voz ansiosa de tio Ran, antes de suas breves viagens a Rio Preto da Eva.

Exílio

Dezembro, 1969

M.A.C. decidiu ir a pé até a rodoviária: comeria um pastel e seguiria para a W3. Numa tarde assim, seca e ensolarada, dava vontade de caminhar, mas preferi pegar o ônibus uma hora antes do combinado: saltaria perto do hotel Nacional, desceria a avenida contornando as casas geminadas da W3. A cidade ainda era estranha para mim: espaço demais para um ser humano, a superfície de barro e grama se perdia no horizonte do cerrado. A Asa Norte estava quase deserta, era sexta-feira.

Um oriental na vastidão

A voz de um estrangeiro pronunciou meu nome, e o homem identificou-se: cônsul do Japão em Manaus. Pediu-me que fosse encontrá-lo depois do almoço no porto. Às duas horas, no barco do consulado, acrescentou.

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